As coisas mais práticas quase nunca estão à mão
Nuvens, caminhos, ideias, caixas, árvores...
Sempre na última estante de cima
Ou num desvio entre o mar e a garganta
É difícil estar só
Porque a porta bate muito mais que o coração
E os olhos vivem numa correria enquanto dormem
Não há como segurar o vento
Uma pessoa com paciência
Poderia construir um mar em miniatura
Teria apenas de gastar muitos fósforos
As conchinhas de mar
Só servem para outras filosofias
O abominável homem das neves
É todo feito de peugadas
E de testemunhos oculares
Por isso
Nada mais confortável para uma montanha
Do que crescer dentro duma garrafa
A leitura de Novalis deixa-me a cabeça fragmentada
É prático saltar por cima dos bancos e das mesas
E atirar o mundo para trás das costas
Como quem já se esqueceu de tudo
Ficando apenas com as dores musicais
Não vais
Ter outra oportunidade
Chegou a época das cerejas
O amor tem consequências singulares
E a guerra dos cem anos já matou a memoria
Mas as nozes e os poemas épicos
Provocam aftas nos ouvidos
Até houve um poeta romano chamado Ovídio