Mil frutos sem sentido
Piet Mondrian |
O cheiro a
maresia mistura-se na boca com a doçura sumarenta dos gomos da laranja.
Tanto mar à
minha frente e nem tenho onde lavar as mãos. Descer a íngreme falésia é
impossível. Nem para apanhar percebes, quanto mais. Mas também sei bem que há sempre
alguém que se arrisque até às sete partidas do mundo.
A partir
das sete da tarde o sol começa a molhar os pés, vai ficando ruborizado até às orelhas
e finalmente afogar os últimos fôlegos de luz. Sempre que posso não perco
pitada daquele diáfano adormecer.
Neste
momento sou uma ilha rodeada de dúvidas por todos os lados. Não sei em quantas
braçadas alcançaria uma estrela firme no céu. Não sei qual o sabor apagado dos
meus ramos, das minhas folhas, dos meus frutos.
A laranja
roída de inveja já não existe. Só os restos das cascas já secas permanecem nas
minhas mãos. Ao longe, uma canção faz nascer um novo lugar, um novo mundo. As luzes
das casas acendem-se. Primeiro uma, depois as outras. É hora de naufragar.
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