sábado, 11 de março de 2017

HISTÓRIAS CALADAS

London Eye


Quiseste levar-me até às estrelas e eu aceitei. O meu sonho era entrar na roda gigante e contemplar as luzes da cidade lá do alto.

Subimos tão lentamente que tivemos tempo para trocar dois dedos de nicotina. Descansei a cabeça no teu ombro, certa de que naquele baloiçar só nosso, nenhum Deus iria espreitar.

Desejaria que a roda parasse antes de atingirmos o topo. Depois de tocarmos o céu, tudo seria sempre a descer. A decrepitude completa das nossas vidas, da nossa juventude já tão perdida.

Tínhamo-nos prometido um ao outro apressadamente, antes dos compromissos que fomos obrigados a cumprir. Cada um pelo seu caminho, sem cruzamentos nem inversão de marcha.

Andámos às voltas por aí, atravessando pontes incertas às horas mais desabitadas. E quando menos esperávamos, o relógio bateu a noite na cidade por onde passeávamos ao acaso, mãos nos bolsos, máquina fotográfica a tiracolo. Reconhecemo-nos pelo jeito distraído de contemplar os abismos da cidade.

O rio caminhou a par connosco até chegarmos à roda gigante. Quiseste levar-me até às estrelas e eu aceitei. Tocámos o céu já com um bocejo tão exausto e adormecido. O nosso breve encontro como sempre, terminou assim que voltamos a pôr os pés no chão.


1 comentário:

Luís Maia disse...

decidi ontem voltar a ser blogger, decidi voltar a visionar os blogs que sempre apreciei , aquele voragem do FB absorve em demasia damos por nós a perder horas num turbilhão inútil. Aqui estou de baraço ao pescoço para apreciar o que por aqui se faz e este foi sempre um blog que apreciei.
Um abraço