Foto: José Luís Bacelar |
Pisa-me,
pesa-me, pica-me na linha com que me olhas. Expulsa-me da tua língua. Cospe com
vil veemência todo o amor que te aperta as goelas.
Nós
somos água e alma. Impróprios na pose das sombras que o silêncio possui. Nós próprios.
Água desalmada.
Não
quero um abraço podre. É pouco o pensamento, mata-me a olho nu. Vamos
despir-nos da ponta do punhal até aos pés. Só depois seremos inteiros. A dança
em cada metade, de um lado a cintura, do outro a ansiedade. Mataste-me por isso
já não precisamos de mais fingimentos. Estás livre para vomitar as lágrimas, as
três mil pernas de ouro, os teus íntimos impérios.
Agora
sim, podemos confrontar-nos, lábios a vapor, unhas fincadas no espelho.
Voraz
seja a fúria com que agasalhas o sexo. Somos anjos perdidos de ódio, sem
escrúpulos, verdadeiros.
Estamos
aqui, frente a frente, não há outro conhecimento maior. O palco do medo acabou.
Eu
e tu somos sangue aberto. Tira a máscara do corpo e sente o sabor das minhas
asas.
Pesa-me,
pica-me, parte-me. Mas nunca mais passes adiante sem me arrastares.
2 comentários:
a raiz do teu melhor
a.
Um texto excelente!
Uma boa semana.
Um beijo.
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