terça-feira, 30 de julho de 2019

A RAIZ CÚBICA DA LUA


Foto: José Luís Bacelar


Pisa-me, pesa-me, pica-me na linha com que me olhas. Expulsa-me da tua língua. Cospe com vil veemência todo o amor que te aperta as goelas.

Nós somos água e alma. Impróprios na pose das sombras que o silêncio possui. Nós próprios. Água desalmada.

Não quero um abraço podre. É pouco o pensamento, mata-me a olho nu. Vamos despir-nos da ponta do punhal até aos pés. Só depois seremos inteiros. A dança em cada metade, de um lado a cintura, do outro a ansiedade. Mataste-me por isso já não precisamos de mais fingimentos. Estás livre para vomitar as lágrimas, as três mil pernas de ouro, os teus íntimos impérios.

Agora sim, podemos confrontar-nos, lábios a vapor, unhas fincadas no espelho.

Voraz seja a fúria com que agasalhas o sexo. Somos anjos perdidos de ódio, sem escrúpulos, verdadeiros.

Estamos aqui, frente a frente, não há outro conhecimento maior. O palco do medo acabou.

Eu e tu somos sangue aberto. Tira a máscara do corpo e sente o sabor das minhas asas.

Pesa-me, pica-me, parte-me. Mas nunca mais passes adiante sem me arrastares.


2 comentários:

Anónimo disse...

a raiz do teu melhor
a.

Graça Pires disse...

Um texto excelente!
Uma boa semana.
Um beijo.