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José Augusto Silveira |
As fotografias fazem mal à memória
Digo eu, que só tenho olhos para dormir
De resto sou muito esquecida
E ponho girafas e girassóis em tudo
Ainda que não tenha caixas suficientes
Para esconder o mar a preto e branco
Já tive um vestido à marinheiro
No tempo em que escrevia com letras magnéticas
De muitas cores
O meu nome começava em amarelo
E dizia alô num telefone de brincar
Dizia alô porque estava longe
Mas só depois aprendi as medidas de comprimento
Os quilómetros de um voo nem se ouviam
Era como fazer o Atlântico num só bocejo
Para regressar
Para voltar a regressar
E ter sempre a mesma idade apagada
A mesma aparência de inusitada
De cadeira cansada e sem pés