terça-feira, 26 de outubro de 2010

CARTOGRAFIA

Apago as linhas do mapa

Ponho as montanhas ao nível da régua
Levanto o mar até afogar os olhos dos pássaros
Até inundar todos os centímetros do universo

Mas tudo é intenso e clandestino
E não há nenhum lugar para as águas
Nem mesmo para as mais secretas

É preciso voltar ao princípio das descobertas
Desta vez com  melhor vontade
Guardando o futuro numa caixa bem aberta

Ir até onde a voz acaba e o céu começa

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

SINAIS DE FUMO

 
A locomotiva fuma a terra até aos ossos,
vai acelerada e negra
girando em volta dum poço aberto
preste a descarrilar das calhas do sentimento,
preste a engolir o fogo do universo.

A locomotiva arde na luz do horizonte,
tudo é mar e o seu inverso,
lucidez negativa
a boca altiva, fornalha de futuro.

Pouca vida, pouca vida…
Gosto do teu sabor a ferro,
Gosto do teu saber a excesso.

Velocidade apagada,
nunca alcanço o que penso
porque vivo nas curvas do infinito.

Dentro da fala arde a lenha
desta pressa
desta viagem acesa.

A locomotiva entra no túnel da garganta
para gritar o nó mudo
do mundo cego.

Tudo é mar e o seu regresso.

Pouca água, pouca água…
Quero chegar
Quero viver fundo, até aos ossos.