sexta-feira, 27 de março de 2020

UM OLHAR DE ESPERANÇA


Acordo e estou a passear nos jardins suspensos da Babilónia, quem diria! Não me canso de subir escadas após escadas. Escher faz-me a vontade, mas basta uma só volta, para me troca todas as voltas. Mesmo assim, deixo-me deslizar no correr das águas que caem de socalco em socalco. Em cada queda, subo mais vinte mil patamares. Todos os terraços têm labirintos circulares, é necessário caminhar no sentido directo dos ponteiros do relógio. Vejo doze pontos de fuga, experimento e em qualquer deles, há uma saída para o interior de mim.

Acordo outra vez, agora na torre de Babel. Uma pessoa cruza-se comigo. Depois outra. E ainda mais outra. Um silêncio nos ombros cansados, uma multiplicação de idiomas que se vão apunhalando pelas costas. Respiro para não ter de respirar. 

Quero acordar. As flores precisam de beijos para se proteger dos venenos que vêm do pensamento. As pessoas que se cruzam comigo têm o meu próprio rosto, o mesmo batimento cardíaco, a mesma urgência de levantar o pescoço e olhar o mundo pela primeira vez.

Vou acordar sempre porque a humanidade é a única palavra que me resta.



#DEPemcasa