quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

NÃO ME FALTE PAPEL


Não me falte o eco do silêncio,
o Sol duro desta idade

sem mãos

a cair para dentro

do Universo...


Não me falte a voz

para enumerar o caos

desta ordem desmedida...


Não me falte a inspiração

para o impossível

das coisas mais irrealizáveis,

nem para o absoluto desafio

dos meus gestos insubmissos...


Não me falte o balanço

para lançar no ar a ousadia

de estar presente

mesmo nos dias mais difíceis...


Não me falte a permanente dúvida

para saber verificar as minhas certezas...


Não me falte o tempo

para que eu possa faltar...

Não me falte o movimento

que me faz ir em busca desse nada

que está por toda a parte...

Não me falte a lucidez

com que forjo a loucura das palavras

coerentemente absurdas...

sábado, 26 de dezembro de 2009

* AMIZADE

Não sei explicar, mas seguramente faltam-me letras com palavras inteiras lá dentro e a cabeça fica muda porque tenta e insiste sem ser capaz de chegar a um alfa onde todas as emoções deveriam começar.

A de agradecer ate o ómega.
A de amizade plena num sistema binário completo, olhos nos olhos que já não têm de fingir nem esconder as lágrimas.
A minha maior verdade é o silêncio grande!

De A de todos os nomes que aguentam todas as minhas loucuras sem fugir.
À Z

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

OUTRA VEZ NATAL

domingo, 13 de dezembro de 2009

A AMEAÇA

Porque a frieza com que as pessoas lidam umas com as outras era insuportável, inclinou-se no parapeito da janela. Na redacção do jornal que se situava no 13.º andar, a azáfama era tanta que, só depois de uma hora e tal é algumas vozes se levantaram em protesto contra o vento gelado que até fazia voar os papéis.

Recolheu-se mas resmungou por entre dentes:

— Se não fosse ter comprado bilhete para os U2...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

CEGUEIRA

Das mãos habilidosas vai saindo um elefante longo
tricotado em linha âncora

as mãos sabem navegar

pelo desenho marcado com alfinetes

e fazem dois elefantes em dois lados reflexos

para pôr na janela

com a intenção de espantar o sol dos móveis



é quase por tacto que as mãos fazem e desfazem

pois os olhos já não acham mais imperfeições

nem mais erros nas medidas do universo



uma voz murmura — Que lindo é esse pássaro!

porque não percebe nada de elefantes

sábado, 28 de novembro de 2009

DO SILÊNCIO

já não há gatos suspensos nos telhados da Babilónia
só monte Fuji e Kodak

e do Evereste nem alpinistas a tiracolo

nem budistas em banhos turcos

que passam as horas a furar os ouvidos na sua meditação

talvez transcendental

talvez do Nepal

talvez sentados como pedras adormecidas

e nessa atitude descobrir o fundo das palavras sem fundo

num espelho

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O BATER DAS HORAS

O relógio bate sempre nas horas mais inconvenientes
nas horas das sombras sobre as pálpebras

bate dentro de nós

com os seus nós de madeira

bate para afugentar o azar e o sono



São horas de abrir o vidro das colmeias

porque há uma consciência muito alimentada a pão

e a medo


Todas as culpas mordidas pelo mesmo dente


São horas de arrefecer os olhos

uma

duas

três

quatro e um quatro


Todos os músculos perdem a força

O pêndulo já não sabe se bate para trás ou para a frente


Na verdade, não existem nuvens silvestres

cinco

seis


noite e meia sem intervalos


Neste momento é preciso intervir a favor dos desertos

e dos prados

e dos moinhos

e dos monges do Tibete

e das águias reais

e dos segundos esquecidos


A fome dá sete badaladas na torre

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NINGUÉM VIVE DE POEMAS

ninguém escreve palavras aos litros
ninguém espirra sonhos pelo nariz

ninguém mata a sede com veneno

ninguém mata o tempo pela raiz

ninguém corta o rio com uma tesoura

ninguém encolhe a sombra do chão

ninguém cobre a cabeça com folhas de alface

ninguém agasalha os pés com teoremas

ninguém enfeita os olhos com canela

ninguém mexe o coração com colher de chã

ninguém suspeita da imparcialidade das moscas

ninguém limpa as suas culpas com algodão

ninguém desiste de sua sede nem da sua fome

ninguém atrasa o tempo com um pontapé

ninguém adianta as ideias por acontecer

ninguém vive sem rosto

ninguém morre sem deixar rasto

ninguém luta contra os seus próprios braços

ninguém começa a crescer pelos sapatos

ninguém se enche de ternura abrindo uma torneira

ninguém apaga o Sol com um sopro

ninguém fecha os olhos para deixar de pensar

ninguém pensa para perder quilos

ninguém escreve para evitar a diabetes

ninguém grita para fazer flores molhadas

ninguém bebe água para se tornar transparente

ninguém cala as suas artérias mais quentes

ninguém fica preso fora do seu corpo

ninguém adormece antes de adormecer

ninguém se liberta das suas próprias asas

ninguém cai do azul dos seus sonhos

ninguém sonha sem rede

domingo, 8 de novembro de 2009

QUANTOS CRUZEIROS E COLCHÕES ORTOPÉDICOS!

A minha mãe é mais velha do que eu, ainda assim, tenho de a proteger porque ela ainda tem medo da chuva, do vento, da trovoada...

Só se defende muito bem é ao telefone. Seja qual for a proposta ou oferta, responde que não precisa de nada porque já tem tudo. E desliga.

sábado, 7 de novembro de 2009

FILOSOFIA SEM PEDRA

As mães têm sempre razão, especialmente por serem mais velhas do que nós.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SONHOS ACANHADOS

Lembro-me do meu vizinho. Sapateiro duas vezes por ano, no máximo, porque o combate corpo a corpo e verbal que ele mantinha com os pregos, o martelo e o alicate era deveras extenuante. As ferramentas eram todas insultadas por demais, mas mesmo assim teimavam, ora caindo das mãos, ora ficavam escondidas dentro dos próprios bolsos ou debaixo dos pés.

— Ah danadas, vocês vão ver quem manda!

A luta era tão intensa que não podia ser prolongada por mais de dez minutos. Assim, umas meias solas só ficavam prontas ao fim de um mês e tal, para a impaciência dos fregueses que ainda reclamavam do preço alto e da obra mal feita.

O meu vizinho queria lá saber, dedicava a vida a uma causa para ele muito mais importante: O funcionamento dos serviços de correio. Assinava jornais diários e semanais só com o propósito de ver se a correspondência chegava à hora certa. Um atraso, por mais insignificante que fosse, dava logo mote para ele ir para a rua anunciar:

— Não hei-de morrer sem um posto dos correio aqui na terra.

E não. O dia em que um posto dos CTT abriu, apesar de provisório e sem nenhumas condições, o homem sentiu-se com certeza um herói.

Não me lembro é se morreu antes ou depois da grande, moderna e verdadeira estação que agora existe ser inaugurada. Algo com a qual nem ousou sonhar.

sábado, 31 de outubro de 2009

INSTINTO


Apenas disparei contra o espelho em legítima defesa.

domingo, 25 de outubro de 2009

PEDRA ILEGÍVEL


O medo ata as mãos
Mata o coração
Porque não mergulha nem salta
Fica
No limiar das portas
Enquanto toda a urgência se adia
Tanto por serenidade como por cobardia

O medo transgride o próprio pensamento
Que só se compromete para se mostrar isento
E para parecer que não se atrela
À liberdade pré-definida na tabela
Tão periódica que faz buracos no tempo

O medo desfaz a palavra
Escrita à medo na areia
Mas nesse cálculo já desmedido
Vence mais a vontade do que o perigo

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CONTINUAÇÃO


A estrada continua em frente
À espera dos teus passos para não arrefecer

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PARTILHA DOS DIAS TRISTES

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

CHOCOLATE


São as pétalas dos dias que me alimentam
Às vezes de forma tão inusitada
Que penso: Esta flor será para mim?

Quem me dera saber agradecer...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A TORRE DE BABEL

O melhor tempo e o da expectativa; a realidade é sempre frustrante pois quase nunca corresponde ao grau do nosso empenho. É necessário que haja sempre uma próxima etapa mais aliciante do que a anterior. Isto quer dizer que, as acções da maior parte das pessoas, ocorrem porque há sempre uma tendência para se conseguir outros resultados, mesmo que nunca se alcance o cume da vontade.

Somos inesgotáveis porque as possibilidades também o são.

Concluir uma coisa não nos leva a ficar satisfeitos nos cem, porque acontece logo um regresso ao zero de onde tínhamos partido e aonde a nossa força se mantém intacta, pronta a desenvolver-se mais intensamente.

Todo tempo é de expectativa, estamos num núcleo que se abre ao infinito. Realizar é apenas ir aperfeiçoando pequeníssimos detalhes de uma obra que não nos é dada conhecer na totalidade, pois essa obra excede sempre os limites dos nossos actos. Mas não atingir a totalidade não significa que sejamos sacos rotos, é antes a condição necessária à nossa liberdade. É sempre possível o MAIS sem que o TUDO venha a impor fronteiras ao nosso voo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SETEMBRO SOBRE OS OMBROS

Este ano o Outono ainda arde com Sol
Ainda não começou a cair de cansaço
Mantém as sombras verdes
Sombras plácidas boas para um recolher
De pássaros com silêncio
Boas para um folhear distraído de memórias
Pequenos álbuns de luzes já amarelecidas
Já esbatidas pela repetição dos rostos

Este ano o Outono tem uma lista de nomes a menos
Mas a melancolia ainda está por chegar

Por enquanto as praias continuam abertas
É só mergulhar e recolher as uvas mais doces
Esperando que o mosto fermente no olhar
E pise o horizonte até à criação do verbo novo

Mas este Outono irá virar de repente
Varrido por um vento forte
Que cobrirá o chão com todas as cores do frio

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

COBERTOR DE ESTRELAS


Ao abrigo de um decreto-lei

Não devia haver nenhum sem-abrigo

Mas todos nós ficamos abandonados à intempérie

Dos espaços amplos e sem fim

Que se têm de percorrer de um lado para o outro

Sempre

Para estar a par das novas avenidas

Das novas super-novas que nos cobrem

O corpo de papel e de cartão molhado

Todas as palavras ficam frias

Quando cai o relento

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quando a idade até provoca inveja

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Perfeição

Perfeito é o que está moldado de acordo com a minha vontade. Desejo desenhar um círculo: Ele será perfeito quanto melhor a minha vontade dominar as minhas mãos e o compasso.

Então as coisas só serão perfeitas quando a vontade for tão forte que não deixe nada ao involuntário.

Mas não será possível que eu queira produzir um erro voluntariamente e produzi-lo na perfeição?




Pensamentos antigos, do tempo em que não me dispersava pela internet.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

DE CARAS

Quando o direito à privacidade é violado pela google street view faça-se a denúncia na TV.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O POLEIRO

É preciso ter galo para aturar um galo armado de galo. Este é de crista altiva e deve ser biologicamente anacrónico porque canta como se desconhecesse as vicissitudes dos tempos actuais, dos telemóveis impiedosos que nos ladram ao milésimo de segundo e nos puxam pelos ossos do oficio. Mas se o galo insistir muito, vai ao forno. Nem os ossos vão ficar para contar a história da humanidade.

Mal por mal, prefiro um pavão a anunciar chuva.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

EM VOGA

E o amor, esse, ainda se usa?
Claro que sim, mas ao desbarato

Em mensagens de 5 cêntimos por segundos.

Continua ridículo como sempre, embora já ninguém se importe

Pois as coisas esdrúxulas tornam-se demasiado enigmáticas.

Sinais do progresso!

smile e I
you para todo a vida
(Que é como quem diz, até a próxima esquina

se tanto...) Depois esquece-se porque estas coisas são mesmo assim,

Umas vezes incapacitam o nervo óptico

Outras vezes inspiram agudas artes, tipo loucamente e etc.

Com pouca vontade, mais para se ver do que para ser.


Amor sim, de todas as medidas, incluindo o XL

Próprio para pessoas de grande porte e maior estilo,

Que a figura também conta para as contas…


Em períodos de grandes achados arqueológicos

É preciso escavar e remover todos os pontos negros da pele,

É preciso um carbono 14 para distinguir as datas inexactas

Do amor que se encontra de repente, quer dizer,

Usando a fragrância certa: ora picante, ora fresca...


Em épocas de grandes tratados internacionais

É fácil sair de órbita, basta acertar no amor

E nos números até às dezenas de milhar,

Porque mil emoções não preenchem o vazio do ar.


É fácil gritar o amor que ninguém sabe.





terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pensamento às 15:15

Só quando se é extremamente lúcido se vive no pavor da loucura.

sábado, 15 de agosto de 2009

Os sonhos dos outros

Detestaria
  • Fazer um safari (seja em África ou onde for)
  • Passar férias numa ilha paradisíaca (numa outra, até podia ser)
  • Andar do gôndola em Veneza (preferia os moliceiros)
  • Viajar no Expresso do Oriente (ainda existe?)
  • Assistir a um “arraial” do Toni Carreira
  • Aparecer na televisão fosse por que motivo fosse

SÓ QUERIA MESMO ERA IR APANHAR AR FRESCO...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Insondáveis



Peixes, 20 de Fevereiro a 20 de Março
Planeta Regente: Neptuno – Modo: Mutável – Elemento: Água

Profissão; Grandes e novas oportunidades caracterizarão esta semana. Aproveite muito bem tudo o que lhe surgir. No entanto, deve analisar todas as propostas para que não corra riscos por excesso de optimismo.
Social; Os seus relacionamentos de ordem social deverão caracterizar-se por algum afastamento e poderá inclusivamente sentir a necessidade de se isolar. Aproveite este período para se auto-analisar e tente corrigir alguns aspectos de ordem pessoal.
Finanças; Semana um pouco complicada em matéria de dinheiro. Algumas dificuldades poderão perturbar o seu equilíbrio emocional. Despesas já esperadas serão motivo de alguma preocupaç
ão.

Sentimental; Semana que poderá caracterizar-se por um grande encantamento. A sua sexualidade está em alta, saiba tirar partido deste aspecto. As noites convidam ao romance. Aproveite bem o seu relacionamento sentimental.



Se estas calinas e surtidas astrologias são desacreditadas pelos próprios fabricantes, como é possível que tantos cardumes se deixem levar pelo engodo? O truque só pode estar nas frases feitas com tão ajustadas medidas que cabem à justa em qualquer chapéu ou cabeça. É obra!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Não era preciso tanto

Não há frio que não dê em Verão de abafar, até os peixes transpiram.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Luar de Agosto


Até na minha aldeola as portas e janelas têm de se manter trancadas em pleno dia e nem assim adianta, desconfia-se de quem não tem boa pinta, os cães bem se fartam de ladrar, mas os alarmes adiantam pouco quando são activados por nada, só ficam a fazer barulho durante muito tempo. Nem a Igreja escapa aos sinais dos tempos, fechada a sete chaves, lá está, virada para o vale do campo, é o sitio mais sossegado para ver o mergulhar do sol, embora suspeite que também seja um canto recatado para outros desesperos, quem sabe, agora já não há o conhecimento familiar até à quinta geração, já não há a cumplicidade dos vizinhos. Se alguém bate à porta é preciso todo o cuidado e só depois é que se recebe de regaço para regaço os primeiros cachos, os figos pingo de mel, tudo, numa troca recíproca de pessoas que sempre foram umas das outras, Amélia do Pereiro, Manuel do Gama, Quitas do Boiça. As noites deste Verão estão demasiado frias, ainda nem apeteceu ficar à janela e durmo porque está muito bom para dormir.

sábado, 1 de agosto de 2009

Poema visual

CHUVA OBLIQUA

O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé de um muro de quintal
Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...
Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos...
Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há arvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...
E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...




Fernando Pessoa

quinta-feira, 30 de julho de 2009

HORAS INVISÍVEIS

segunda-feira, 27 de julho de 2009

MIGALHAS DE UMA SOCIEDADE VAZIA

quarta-feira, 22 de julho de 2009

PERDIDOS NO UNIVERSO

Ser pessoa às 4:18 da tarde,
a Primavera já não cheira,
só os pinheiros das naus das sete partidas.

Neste instante exacto, o dedo no cronómetro,
a vida anda ao contrário
porque não é capaz de andar com os pés
nem sabe orientar a cabeça.

Por estas horas algum rei sem destino
mas com muitas nuvens nos ombros,
proclama uma liberdade assim-assim
mais ou menos em desequilíbrio
como vem nos livros de história.

Ser pássaro de um momento para o outro
trocando de mãos,
malabarista desastrado
que não pode agarrar no vento,
todas as ideias são bolas que se atiram para o ar.

Há um horário rigoroso que se tem de cumprir
logo que a porta é aberta,
logo que se lava a cara,
não adianta encolher os passos
porque toda a gente sabe onde se esconde o futuro
e em cada esquina somos apanhados de surpresa.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Um segundo de eternidade


Um grão de areia é tão leve. Dois grãos de areia contêm a mesma imperceptibilidade do que dez, cem, mil... Até que o “nada” que está sobre os ombros fica pesado, insuportavelmente pesado. E pensar que um único grão de areia é o elemento activo dessa transformação!

Eis o mistério, a gota que faz a tempestade.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

AO DISPOR




Assustador, quantas vezes voltaremos a ter um JG para nos lembrar das coisas importantes?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

QUANTAS POSSIBILIDADES!

A fidedignidade das aparências, só iludem os olhos viciados em ângulos rectos.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Leitura para o Inverno


"Que é tetralo..." arrisquei.

"É a arte de cortar um cabelo em quatro. Esse departamento compreende o ensino das técnicas inúteis, por exemplo: a Avunculogratulação Mecânica ensina a construir máquinas para cumprimentar a tia. Estamos em dúvida se deixamos nesse departamento a Pilocatábase, que é a arte de escapar por um fio, e que não parece de todo inútil. Não acha?"

"Por favor, me digam primeiro o que é essa história..." implorei.

"É que Diotallevi, e eu próprio, estamos projetando uma reforma do saber. Uma Faculdade da Irrelevância Comparada, onde se estudam matérias inúteis ou impossíveis. A faculdade tende a reproduzir estudiosos em grau de aumentar ao infinito o número de matérias irrelevantes."
Umberto Eco
in
O Fêndulo de Foucault


Se este livro não me lembrasse tanto
“O Código da Vinci” teria sido capaz de o ler até ao fim...

domingo, 5 de julho de 2009

Outro da gaveta

CÂMARA: ACÇÃO

Agora, precisamente agora,
Neste milímetro quadrado do esquecimento,
Um pneu Goodyear esmaga o firmamento
E a Palestina treina os seus argumentos de pedra

Um bom filme de acção começa no deserto
Moisés liberta-nos com uma metralhadora
É a Lei gravada a ódio
De todos os diamantes de Angola
O Muro derrubado
Ocidente de alta tecnologia

De todos os lugares do mundo, Moisés
Agora, precisamente agora
Começa toda a história
Sem paralelo 38
Norte e Sul de um cenário televisivo

E é preciso correr até à meta prometida
Rambo contra o seu duplo
A bala calibre agudo alojada na alma
Uma ciência lascada no sílex

Ter e haver ainda nada
Ruanda dos nossos safaris mais cruéis
O homem à solta com as suas mandíbulas e garras

Talvez o golpe de misericórdia,
Neste deserto franco-atirador
O tempo cortado no último take
Plano americano, olhos nos olhos

Como sempre sobrevive-se a tudo
E nada falta neste deserto
2000 (um “agora” já antigo)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Até ali

Uma vontade de não ouvir mais.

As pedras resmungam, resmungam, resmungam... Vou dar uma volta.

domingo, 28 de junho de 2009

Resposta: Somos palavra por palavra

Sem dúvida, o anonimato praticado na vida real é ignóbil por de mais, cobarde no uso de atirar pedras para esconder a mão. Acredito é que o mundo virtual dos blogues pode existir sem essa sordidez, pois não é no nome que reside a identidade. No uso que se faz da escrita sim, está a marca digital do nosso carácter. Ela é de tal maneira única que nos revela mesmo sem B.I. nem assinatura.

Não como esconder o rosto porque há sempre uma sílaba que nos denuncia.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

QUEM SOMOS?

Nos blogues joga-se em excesso tanto com a verdade como a mentira. A escrita protegida por um suposto anonimato pode ser um refúgio, mas também lugar de abertura e liberdade.

Declaro, sou a que aqui se mostra. A outra, se existir, não me representa.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Coitadinhos

Deviam haver mais estacionamentos para os créditos mal parados.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Faz de conta


Já não há polícias como dantes. Nem padres, nem professores, nem médicos. São todos demasiado jovens. Apetece-me brincar às casinhas.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

De loucos, temos muito pouco!


Será possível ter ideias próprias? Posso estar muito errada, mas no quotidiano verifico que, embora em escalas diferentes. toda acção e pensamento são condicionados. Quando tal não acontece, é porque se está pisar a linha ténue entre a sanidade mental e a loucura. Todavia, é esta última que também leva à genialidade.

sábado, 13 de junho de 2009

Coisas que chateiam uma pessoa



Na festa ao St.º António já não há foguetes, nem zés pereiras, nem um pavilhão enfeitado com flores, nem a valsa da meia-noite. Em vez disso, há altifalantes com Tony's Carreira e Ana's Malhoa. Que seca, durante 3 dias não vou dormir a minha sesta em paz!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Não fazam barulho


Não sei quanto mede exactamente um palmo, imagino que deve ser muito aproximado ao comprimento de um lápis já meio gasto, daqueles que fazem trinta por uma linha e nunca chegam a descobrir que há bichos carpinteiros de tal maneira cansados de fitas métricas que adormecem em pleno voo.

domingo, 7 de junho de 2009

Irmãos



Uma voz para a minha voz que não diz...

Bicos, amiga Asun!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

UMA DOCE HERANÇA


Entre algumas outras frutas, sempre gostei de cerejas. Mas, de há uns anos a esta parte, elas são a minha perdição. Cresce-me água na boca só de as ver ou imaginar. Adoro cerejas com todas as forças das minhas papilas gustativas. É assim desde que a minha avó Guida morreu. Para a minha avó, as cerejas eram um regalo e o melhor miminho que lhe podiam proporcionar!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Pó branco

No recato asseado dos domingos, ele apareceu a cambalear, vindo não se sabe de que outros obscuros quotidianos. Deixou-se cair no banco do jardim e apagou imediatamente, com a cabeça quase a tombar para o colo de uma velhota que, perplexa, não teve como reagir e continuou a tricotar o seu paninho de renda.

Sussurrou: Tem as mãos tão brancas, deve ter saído do seu turno de padeiro!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O tal testamento vital

Peço que me deixem viver até à última gotinha, mesmo que já nem possa levar a comida à boca ou não seja capaz de me deslocar daqui para ali.

Só não quero é gotas ou xarope para a tosse... que horror!

Irei chocar alguém com estas palavras? Esta dúvida, para mim, é que é assustadora.

domingo, 17 de maio de 2009

Antes de todo o tempo...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Irra!!!

Afinal, os teimosos mudam de ideias e ficam velhos antes de tempo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

E sou teimosa

Dantes, por razões práticas, pensava que me daria jeito morrer nova. Como não morri, agora já não me apetece. Quero é durar (dura) toda a vida e mais seis meses...

terça-feira, 12 de maio de 2009

É-ter-na-mente

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Minhas lindas ervilhas de cheiro!

Às 4:56 acordei com a luz de um telemóvel a piscar. Impossível, pensei, não tenho destas bugigangas. Mas a coisa continuava lá, em cima da minha almofada, a fazer-me cócegas no nariz. Apesar do sono, tentei não me babar, pois tive receio de estragar um objecto que não me pertencia. A voz do Funes tranquilizou-me, explicando que os novos produtos de alta-tecnologia são resistentes à água. Que bom, respondi, assim Portugal já pode alargar a sua plantaforma continental e tal. Irritado, o jg, começou a insultar-me e a pôr e a tirar virgulas dos meus pensamentos. DEIXEM EM PAZ, gritei furiosa. Mas logo me arrependi. Afinal, era a Júlia Pinheiro a perguntar se eu ainda tinha beterrabas para espetar. Ia informá-la de que já só havia feijões de empa, mas a chamada caiu e eu voltei a adormecer.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Retalhos da vida...

Com a idade foi ficando tão surdo que agora só ouve coisas quando está a dormir.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

EVIDÊNCIA

Uma máquina de lavar roupa é mais útil do que um poema.
Aliás, tudo é mais útil do que um poema.
Por exemplo, uma faca serve para cortar o pão,
um poema nem serve para cobrir o coração.

Além do gesto, não devia existir
outro tipo de comunicação.
Os peixes têm mais profundidade
do que a alma cansada dum poeta.

Os poetas são pesados,
têm mãos e lábios de morte.
Os poetas são achatados
como as mesas e os livros.

Devíamos ter ficado pela descoberta das pedras,
pelo cheiro húmido e geométrico da terra...
Mas passámos além do erro
e assim chegamos à angústia.

Os poetas deviam estar
debaixo duma malga, como os pirilampos.

Um poema é sempre uma coisa metálica,
é uma exclamação aguda e insuficiente,
uma maneira de transgredir e confrontar...

Um poeta é como um jogador
que atira a sua fala, até à raiz da dor.

Um poema é sempre inútil,
mas por ser inútil, é que é poema...


P.S.: O Funes é que tem razão.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A SOLIDÃO

Não consigo parar. Caminho de um lado para o outro, seguindo todas as indicações de saída. Mas todos os lugares de onde saio, vão dar a outros de onde também é preciso sair, por serem tão fechados como os anteriores. Uma vez entrei num desses estacionamentos subterrâneos que começava no piso zero, quer dizer, ao nível do solo. Depois a saída era feita sempre a descer -1, -2, -3… Parecia que estava a ir para o centro da Terra. Mas a verdade é que sem saber como, no piso -7 acabei por chegar outra vez à superfície. Encontrei a mesma estrada por onde havia entrado. Recursos da arquitectura moderna, pensei.

No entanto, o que se passa comigo é outra coisa bem diferente. É sentir que não consigo respirar. Que é o próprio céu que me oprime. Que, por mais largo que seja o horizonte, nunca me sinto à vontade. Quando vou pelas ruas, os prédios começam a apertar-se uns contra os outros e tenho de correr para não ficar com o corpo esmagado no meio deles. Outras vezes é a multidão que não me deixa passar. As pessoas fecham-se em meu redor como se não me quisessem deixar fugir.

Na verdade, ninguém repara em mim, e a minha presença passa sempre despercebida. Há alturas em que até duvido da minha realidade física. Não consigo encontrar a minha imagem reflectida em nenhum espelho. Nas vitrinas das lojas, vejo uma grande quantidade de gente e não me distingo no meio de todas aquelas figuras. Só me reconheço pelas roupas que trago vestidas: meus sinais exteriores de tristeza.

Há sempre uma porta fechada no meio do caminho por onde vou. É uma porta que está constantemente diante de mim. Para onde quer que eu vá, ela aparece. Tento arrombá-la, mas não tenho força. Já só me resta o cansaço de tanto caminhar. E caminho sempre em frente, apesar da porta que me impede a passagem. A porta está sempre lá, na minha frente. Mesmo que caminhe com toda a determinação, nunca a consigo alcançar, nunca consigo deixá-la para trás. É uma porta que, estando sempre na minha frente, me persegue como um cão. Por isso, olho constantemente para trás.

Mas não há nada atrás de mim. O mundo é um desenho ténue que se vai apagando à minha passagem. O mundo é um desenho que apenas se torna nítido de cada vez que dou um passo em frente. O mundo é uma rotunda por onde se pode seguir em todas as direcções. Só há um caminho para todas as direcções. Um caminho aberto e sem saída.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

MERCÚRIO



a manhã sai de casa apressada
mal tem tempo para acordar o corpo
corre nua como a água
entra em todos os cantos
anda à procura dumas sandálias com asas
mas os pássaros estão todos magoados pelo frio
e a vontade já não volta

a temperatura não sobe nem desce

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Libertação



Hallelujah - Alexandra Burke

terça-feira, 7 de abril de 2009

De pantufas

Nascemos descalços. Os pés podem dar que pensar. Cada vez mais dedicados, mas frágeis. Só escolhem solos almofadados, sensíveis ao mais pequeno grão de areia.

Os seus pés ficaram-me na memória: Grandes, largos, imponentes. Pisavam o chão com o impacto de toda uma genuína humanidade. No Verão, depois de calcar os sulcos da água, saía da terra suave, para o caminho duro e áspero. Sem sentir qualquer diferença. A sua pele era de sola forte que não se gastava com os gumes afiados do tempo.

Homo erectus. Perdemos o teu passo, o teu equilíbrio perfeito.

terça-feira, 31 de março de 2009

O VENTO QUE PASSA





Estou quase a voar
preciso que me atem à Lua
e me apertem bem os sapatos
senão fujo para longe

Os peixes sabem como me deixo encantar
por qualquer búzio que traga o som das estrelas

Em todos os lugares há pedras caídas do céu
Em todas as pedras há indicações precisas
é tão fácil encontra um sonho

Vou dividir o futuro
um ramo para a flor
o outro para as palavras que andam no ar

segunda-feira, 30 de março de 2009

Não consigo explicar

Os meus pais são velhos. Os meus tios também são velhos. Há pessoas na blogoesfera tão velhas como os meus pais e tios, mas que são jovens. Muito mais jovens do que eu!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Jardim desfolhado

sábado, 21 de março de 2009

Dia da poesia e etc & tal

O ELIXIR DA ETERNA HESITAÇÃO


Rir é uma actividade científica
Mas não sei se as formigas têm cócegas
Ou se por acaso haverá
Estrelas com feitio de estrelas

De repente a idade sai-nos detrás de uma porta
Aos saltos e com uma cartola verde na cabeça
Não para nos fazer pensar na vida ou meter medo
Mas porque é esse o seu ofício
É essa a sua arte de dividir e alongar
As dimensões de todas as nossas fotografias

O esquecimento faz com que as coisas mudem de lugar
E efectivamente tanto as meias como os sapatos
São de longe os bichos mais irrequietos de todos

O riso é o lugar das coisas perdidas

quinta-feira, 19 de março de 2009

LOS FUNOS Y SUS DILEMAS


E porquê faqueiro e não talheiro?

quarta-feira, 18 de março de 2009

ACHO QUE NÃO...


Hoje é dia de castelos no ar!!!!, diz o JG.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Um postal do Caramulinho

Estrada toda aos esses, fazia algum tempo que não ia para aquelas paisagens. Lá continuam os rebanhos e os rochedos prodigiososamente esculpidos na parece ampla do céu. Regatos ainda sulcados pelas chuvas que já vão abrindo em flor. Depois, as sombras das árvores que começam a apetecer, que nos embalam num aconchego de sesta. Os sons mais escondidos acordam conforme os olhos se fecham e tudo é mais nítido quando a atenção vai ficando desfocada.

Mas é preciso regressar porque os dias são curtos.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Cogitações

Ao descer a avenida, Péricles interpelou-me sobre a democracia e a constituição. Em vão, argumentei que não passava de um simples funcionário público. Começou então a vociferar contra desleixo com que me apresentava. Não tive paciência para o ouvi e desandei. Uns passos mais adiante, o passeio estava vedado por fitas vermelhas porque os trabalhadores da câmara andavam a pintar um triângulo rectângulo para celebrar o dia mundial do teorema de Pitágoras. Resmunguei que era mais útil para as crianças jogarem à macaca ou à cabra-cega. Mas logo se levantou uma manifestação contra o método de Decartes. Encolhi os ombros e fui à vida.


A primeira vírgula é assaz necessária para não se confundir com a Av. Péricles.

Assaz é um vocábulo desagradável.

Podia iniciar-se uma lista de palavras não fazem falta nenhuma.

Peço ajuda aos nomes:

  • Funes
  • JG
  • Blimunda
  • Claras Manhãs
  • Jardineira Aprendiz
  • Mac

segunda-feira, 9 de março de 2009

Uma carta com toda a vontade de viver


Toda a esperança numa tão vaga hesitação.

sábado, 7 de março de 2009

E depois veio a Nikita do Elton John



Mas prefiro esta.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Pobres figuras de estilo - Fátima Lopes e a sua última colecção inspirada na Virgem Maria

Há quanto tempo ando para falar da dificuldade das onomatopeias! Hoje, a talho de Funes, o assunto voltou-me à baila dos pensamentos. Como, ultimamente, tudo tem sido um vale verde ao luar, gostava de me redimir. Mas, dado que ando numa roda viva e não tenho mãos a medir, vou ter de aguardar que a procissão vá no adro, para que possa ter pano para mangas. Ufa.

terça-feira, 3 de março de 2009

Etc & tal

— Mais vale dois pássaros a voar do que um na mão.

— Quem tudo quer, tudo aproveita.

— A prudência morreu de velha, coitada.

— Filho de peixe, morde o anzol.

segunda-feira, 2 de março de 2009

GRANDEZA



Saibamos descobrir o verdadeiro tesouro. Abramos os olhos, mas também o coração.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Foi...

Como o tempo passa cada vez mais depressa, lamentamos conforme vamos passando o tempo.
Amanhã tudo há-de ser num instante. Mas haverá instantes que ficarão para sempre. Para além do esquecimento.


Uma Historia Simples - Rodrigo Leão

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Pensamento imperfeito

O mundo poderia ser melhor se não houvesse tanta exigência de perfeição.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

QUASE PRIMAVERA


Hoje apetece voar, mergulhar fundo no céu ou numa espreguiçadeira, ficar à escuta do silêncio, do desabrochar secreto das flores, dos pássaros. Apetece deixar cair as mãos do regaço, adormecer.


Samba Pa Ti - Santana

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Alguém me explica, por favor?

Peditório para a luta contra o cancro da mama.

Mas porquê especificamente contra este tipo de cancro? Acredito que haja uma razão válida, mas não imagino qual.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Depressões e anti-ciclones

Sim, é preciso muito cuidado com o colesterol e estar alerta com os triglicéridos, a albumina, a bilirrubina, a creatinina, a glicose...

— Posso comer só mais um bombom?

NÃO!!!!!

Que tristeza de vida.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um farol Dali


Pode não ser dali, mas fica perto...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sereias de lã!


Minhas lindas companheiras, nascidas do mar.

MARCAS


Talvez ainda não será desta que o céu nos vai cair na cabeça. Mas, pelo sim ou pelo não, vou andar de chapéu durante uns dias.

Não tenho dúvidas é de que se a gravidade na Lua não fosse um sexto em relação à da Terra, o chão por já estaria atulhado de lixe. E mesmo assim, não me admiro nada se houver latas de Red Bull guardadas nos buraquinhos das crateras.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Memórias

Diga-se, a minha escolaridade é mínima e feita já fora da idade. Valeu-me a Selecta Literária, por onde o meu irmão tinha estudado, com o seu lápis sempre afiado e mui cheio de distraídas gravuras. Foi nesse compêndio que encontrei a Mofina e outros textos que não mais vim a esquecer. Eis aqui o D. Beltrão... Haverá hipérbole mais elaborada do que as três feridas?

A MORTE DE D. BELTRÃO

Versão de Vinhais, recolhida pelo Pe José Firmino da Silva, 1904 (José Leite de Vasconcelos, Romanceiro Português. 1º vol., Coimbra, 1958, versão nº 18, pp. 31-32).

– Quedos, quedos, cavaleiros, — que el-rei vos mandou contar,

Falta aqui o Valdevinos — e seu cavalo tremedal;

Falta a melhor espada — que el-rei tem para batalhar.

Não no achastes vós menos, — à ceia, nem ao jantar;

Só o achastes menos — a porto de mau passar.

Deitaram sortes à ventura — a qual o havia d’ir buscar.

Todas sete lhe caíram — ao bom velho de seu pai;

Três lhe caíram por sorte — e quatro por falsidade.

Lá se vai o bom do velho, — o seu filho vai buscar.

Pelos altos vai voando, — pelos baixos procurando,

À entrada duma vila, — à saída dum lugar,

Encontrou três lavadeiras — numa ribeira a lavar.

– Deus vos guarde, lavadeiras, — que Deus vos queira guardar.

Cavaleiro d’armas brancas — viste-lo por aqui passar?

– Esse soldado, senhor, — morto está no areal;

Os seus pés tem sobre a areia — e a cabeça no juncal;

Três feridas tem em seu corpo, — todas três d’homem mortal;

Por uma lhe passa o sol, — pela outra o luar,

Pela mais pequena delas — um gavião a voar,

Com as asas bem abertas, — sem nas ensanguentar.

– Não torno a culpa aos Mouros, — em meu filho matar;

Só a torno ao seu cavalo, — não no saber desviar.

De mandado de Deus Padre — veio o cavalo a falar;

– Três vezes o desviei — e três me fez avançar,

Apertando-me as esporas — alargando-me o peitoral;

Dava-me sopas de vinho — para melhor avançar;

Os muros daquele castelo — três vezes me fez salvar.


d'Aqui

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Frase de rodapé

Quando se chegar ao fundo do poço, só pode haver uma solução: Escavar até chegar ao outro lado. Para isso é que o mundo é redondinho!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Laughing out loud


É demasiado banal para merecer atenção, mas o lol faz-me impressão. A sorte é que numa rápida pesquisa já me rio em voz alta...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

À espera de melhores dias...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SÓ A CERTEZA NOS ENGANA

Afinal, a corrente que nos leva
é a mesma que nos ajuda a regressar,
assim, a voz que mais alto nos subjuga
tem sopros íntimos de vontade própria,
todo o querer que se quer
é aquele que sem o nosso querer nos convoca,
nada se pensa dentro da alma
que pelas ruas não ande bem apregoado,
somos os únicos na procura
que nos guia à universal descoberta,
o contrário que em nossas opções se destaca
é apenas o reflexo nítido no espelho dos outros,
não há fuga no caminhar que se prolonga
pois é a vida que nos persegue e ultrapassa,
quem acredita que com coragem o seu limite alcança
nem depois de todos os máximos poderá descansar…

Estes são os enganos
que nos inspiram maior confiança.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Não vás ao mar

Maria Toina da Silva, minha amiga? Exagerei. Conheço-a só de vista. Sei, no entanto, que é portadora de uma deficiência que não a deixa falar de modo minimamente perceptível. Facto que mais ou menos a angustia e que já há uns anos a levou a aceitar um tratamento inovador que consistia em injectar um relaxante muscular nos lábios. Coisa simples, quase indolor, garantiram-lhe.

No dia marcado, lá foi a Maria Toina toda contente até ao hospital. A coisa começou a mudar de figura quando soube que as picadas iriam ser aplicadas não só nos lábios, mas também na veias do pescoço. Mesmo assim, tentou manter-se firme e ir em frente. Só que à terceira agulhadela, gemeu, falou e disse ai ai ai. Não desmaiou por um triz. Quando chegou ao fim, sentiu-se óptima. Era só esperar pelos resultados, e repetir o tratamento de seis em seis meses.

Dizem que ficou com a boca muito direitinha, sim senhor! Que se notava uma melhoria, ora essa! Pode ser, mas os efeitos secundários levaram-na a refilar alto e a bom som: Nunca mais...

Insólito porém foi descobrir que um produto de fim terapêuticos se espalhou a uma escala mundial com o célebre rótulo de Botox.

E claro que mais do que insólito, há a parte grotesca da estupidez humana. Maria Tonia da Silva Pancrácia é bem capaz de se sentir indignada por ver tanta gente a “brincar” com uma coisa tão valiosa como a saúde.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A minha frase do dia

A esperança que mais ou men0s se deposita no presidente americano, Barack Obama, não resultará duma muito complexa forma de racismo?

I give a dream: Um dia, a cor ou qualquer outra particularidade física das pessoas, vão passar despercebidas, sempre que for preciso escolher seja o que for. Um sistema político, por exemplo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O mundo está perdido

Nem um curso intensivo destes me vai passar a vontade de rebentar com as farmácias que vendem este anti-rugas...


Em breve contarei a incrível história da minha amiga Maria Tonia da Silva.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Acabadinho de sair do forno...

UM SABOR COR-DE-ROSA


Penso que pensar pode ser perigoso
Que não há tratamento ecológico para as ideias residuais
Que é preciso apagar primeiro para pensar depois

Depois
Muito depois

Não penso nada
por mim os malmequeres podem andar à solta
ou de braço dado com rodelas de limão

A língua sabe-me tão mal
Porque não me sabe
Nem me sai boca

Penso e guardo as mãos nos bolsos

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O SAL DO UNIVERSO

primeiro um fogo
depois a razão

uma aranha de vidro
mordida bem no meio do peito

não há remendos para a alma esfarrapada
e a vida come-se com casca e tudo

primeiro um fogo original
a seguir um fruto sem saída
esmagado no fundo do bolso

no fim
toda a sede dos peixes



Maio de 1999

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sublitezas

Ando embrenhada n'A Viagem do Elefante, depois de uma pausa que fiz na leitura do nosso Nobel. Desta minhas deambulações não farei análises literárias, pois longe de mim tais habilitações ou pretensões. A ideia que tento aqui desenvolver ao de leve tem a ver apenas como a velhice se manifesta.

Por exemplo, o Professor Hermano Seraiva continua a dizer: “Como bem sabeis...”, ciente de que o povo, apesar de não ter a cultura que lhe seria necessária, precisa de bons estímulos. Ao passo que José Saramago, num tom que no mínimo se poderá considerar jocoso, diverte-se a explicar tudo o que escreve, pois o leitor, coitado, é limitado. Claro é, mas dito assim, chateia.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Yeeees, entramos em recessão!!!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dia novo...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Até já Nuno Miguel


Sempre pressenti que a sua passagem por este planeta seria breve... Ainda assim, estou triste porque acabei de saber da sua partida!

Nunca nos preparamos para aquilo que mais nos preparamos.