quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Espanta-gripes!





EM FESTA, NÃO À CRISE!

domingo, 28 de dezembro de 2008

Para uma linda menina ...

É natural, as nossas crianças, habituadinhas a tudo, têm quase sempre mais olhos que barriga e a palavra desperdiço, porque foi pintada com as cores dos ecopontos, é uma noção que lhes passa ao lado. Desde que se escolham os contentores próprios, tudo aquilo que não se quer pode ser posto fora.

Os centros comerciais podem ser óptimos lugares de observação para se apanhar os pequenos e grandes flagrantes dos tempos actuais. As papeleiras deixaram de estar cheias de cinza e pontas de cigarros para estarem a abarrotar de todo o género de alimentos, devorados pela metade e cuspidos por inteiros.

Mas em vésperas de Natal, fui tocada por uma cena que me salvou e me valerá para o futuro próximo. Mãe e filha sentam-se com os gelados mais pequenos que havia à venda e comem devagar, colher a colher, num silêncio de sorrisos tristes. A mulher, meio ausente, tem um ar abatido pelo peso sabe-se lá de que solidão e de que vidas. A menina, linda como uma bonequinha, come até à altura em que diz baixinho que não quer mais. É então que, de uma voz muito calma, recebe a lição de que as coisas custam dinheirinho. A criança, acena com a cabeça, como que a pedir desculpa e engole tudo com resignação e evidente esforço.

Era uma menina tão pequena, não teria ainda 3 anos. E já com o mundo às costas!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Equações de quarto grau

Ufa, mais um que passou! E com a prática, até se vai tornando fácil.

Afinal, porque é que o Natal começou a ser visto de esguelha por tanta gente? Por causa de obrigar a um consumismo exagerado que nos deixa ainda mais à pendura, argumentarão alguns. Por nos tocar no sentimento, na pieguice e na saudade, dirão outros. Ou ainda, por ter tantas palavras de circunstância que nos asfixia até à medula.

Será por tudo... Mas há um fenómeno matemático que me faz deveras impressão: É a família que, quanto mais se multiplica, mais se divide.

Que coisa!

sábado, 20 de dezembro de 2008

É mesmo por encomenda...



PARA TODOS OS QUE ME TÊM FEITO COMPANHIA NESTES MONTES SEM FIM...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pedido...

Crianças, guardem segredo e deixem que os adultos sonhem com o Pai Natal. É que as pessoas crescidas já não têm muito mais em que acreditar!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Fio da navalha


Do país, à Europa, à economia mundial, à civilização actual, à humanidade, até ao mais ínfimo recanto da nossa alma, tudo num estado de periclitante equilíbrio de arames e fios soltos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Todos os dias



Os blogs andam a morrer a mão-cheia. Ou são as datas que se apagam das agendas. Também é provável que a escrita nunca mais volte a ser permanente como nos tempos do papiro.



Everyday2 - Carly Comando

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Agradecimento tardio... ou talvez não!

“Não encontrei uma fé: a minha fé é a minha procura e penso que só irei desistir dela no dia em que encontrar esse não sei quê que me cita e se esconde sempre que julgo que o tenho nas mãos.”

“Às vezes julgo que sou uma espécie de cobaia do futuro e que, irremediavelmente, faço parte daqueles que andam a ensaiar outro modo de tocarmos no mundo. Vejo, e não quero fingir que não vejo, que as pessoas andam muito magoadas a viver o que vivem. Creio que tudo se está a passar ainda no estádio intermédio do destino humano: as raças, as civilizações, a Terra inteira. É possível que esta história não seja ainda a verdadeira história do homem mas a dum ser intermédio. (…)”

“(…) a verdade é que sei coisas de mais e, se é certo que elas não me deixam odiar, também acho que não me deixam apaixonar. A razão fica sempre à espreita e não me consigo entregar emocionalmente, nem a uma ideia, nem a uma religião, nem mesmo a um amor…”

António Alçada Baptista in “O RISO DE DEUS”



Este livro parou duas vezes nas minhas mãos: À primeira leitura só pude dar conta de algo que, precipitadamente, classifiquei de snobismo intragável. Afinal o snobismo era meu e da minha miserável interpretação. À segunda leitura pura e simplesmente rendi-me. Posso dizer que este livro deu-me volta à cabeça e libertou-me de um sem-número de tabus, inibições e ideias feitas.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Atlas


O mais difícil de carregar com o peso do mundo sobre os ombros, não será a falta de chão?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Cenas que até parecem mentira

Aproveitando o tempo de chuva que não dá para fazer nada na lavoura, ela tirou o lenço da cabeça, pôs um avental lavado e foi à cidade tratar do Cartão do Cidadão. Uma tarde inteira perdida para nada... Como tinha a pele da cabeça dos dedos muito seca, a assinatura digital não funcionou. Terá de usar creme durante 15 dias para depois fazer uma nova tentativa.

Isto suscita-me só uma duvida: As pessoas sem dedos que hipóteses têm?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

E mais...

A maçã de Adão só foi mordida e a caixa de Pandora aberta graças à valentia das mulheres. Sem esse arrojo de carácter não teria havido história.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O segredo

Achava que essa “dos homens não entenderem as mulheres” era desculpa esfarrapada dos próprios para não se darem ao trabalho de prestar atenção. Afinal, pobres deles, há mesmo meandros femininos que nunca poderão ser desvendados. E a razão é muito simples — os homens pensam com régua e compasso, o seu cérebro está demasiado formado para as medidas certas.

Na verdade as mulheres não têm sexto sentido nenhum, nem excesso de sensibilidade. Têm bem mais do que isso... Algo que nem a nossa comprida consegue revelar!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Estória de encantar

O príncipe encantado caminha um pouco porque tem as pernas entorpecidas pelo longo percurso que fez a cavalgar, respira fundo, passa a mão pela testa e avança cheio de valentia. Lá estão as três: A bela adormecida ressona de tal maneira que até a torre do castelo estremece; a branca de neve está roxa, sufocada pelo caroço da maçã; e a gata borralheira, sentada com ar muito de desgraçadinha, mostra um pé tão grande e chato que é mesmo de assustar...

A vontade do príncipe é transformar-se rapidamente num sapo. Mas, após uma breve reflexão, volta ao cavalo e foge a galope em busca da bruxa má.

São capazes de viver felizes para sempre!

sábado, 22 de novembro de 2008

Ensurdecedor

Adoro o silêncio. Desde que tenha um som ambiente.


Café del Mar - Nacho Sotomayor

Maluca já sou


Lagarto, lagarto, lagarto, estou com medo de me tornar supersticiosa.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Que tristeza, caramba!

Esta noite, antes de adormecer, lembrei-me duma coisa que me deixou abalada. Que horror, que pessoa sou eu que nunca fiz deliberadamente um disparate?... Já parti um prato ou dois, mas foi sem querer.

E não sei por que é que só faço disparates!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

My password

Há sempre um time certo para revelar handicaps. O meu é o inglês. Por sua culpa é que fiquei em stand-by.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O Silêncio

Hoje o rei vai mais nu do que nunca. E também mais do que nunca as pessoas se negam a admitir a realidade. Creio que essas pessoas não são infelizes porque simplesmente não são nada. Hoje é tão fácil não ser nada, optar pelo anonimato, pelo plural descomprometido onde ninguém pode ser encontrado, onde ninguém pode ser culpado por nada, nem pelo ódio nem pelo amor. Hoje as maneiras de esconder são muitas e sofisticadas. Cada um tem o seu muro para as suas lamentações mais particulares. À luz só aparece um exterior bem desprovido de emoções. Não nos dão o direito de desafinar, de olhar para o lado. Quem não andar numerado nem é gente. Devemos ficar à flor da pele, sem tentar rasgar a carne; porque toda a dor é de se camuflar, não se deve exercer em nenhum momento. Ela é para ficar submersa, para ser diagnosticada apenas nas suas causas mais orgânicas. É necessário progredir para o óptimo, mesmo que este seja um óptimo especulativo, feito de cobardias e alheamentos. Hoje negamos a imagem do nosso espelho, as nossas verdades só causam danos, devem ficar fechadas no subconsciente para que a nossa nudez não nos alerte para o frio que trazemos no corpo. Sentir é acordar para uma realidade feita de perigos, onde qualquer coração pode facilmente cair. Temos de afastar a vulnerabilidade que nos pode fazer mergulhar numa humanidade demasiado aberta, numa humanidade sem lucros e por isso mesmo, prejudicial. Temos de nos empenhar na solidez dos nossos gestos, não podemos arriscar na sinceridade nem na transparência.
Conviver é estar alerta para que nenhuma das nossas palavras ganhe demasiado significado. Devemos viver como quem procura simplesmente se esquecer de si mesmo.
O rei vai nu… deixá-lo ir! As paredes estão direitas e tudo está bem, nunca esteve melhor! Para quê dizer o contrário se isso não nos dá nenhum rendimento? Deixemos a metafísica, façamos vénias à alegria, à alegria calma e nutritiva, à alegria de não ter outras razões do que as nossas próprias razões. Sejamos felizes, felizes a qualquer preço, sejamos felizes sobre as ruínas, sobre o silêncio da nossa própria infelicidade.

sábado, 8 de novembro de 2008

Ah pois!

Mais dispendioso do que ter muitos filhos, é ter um sobrinho único!

É isso

Não gosto nada de fados portugueses.

Pequena história de amor

Era uma ”menina” deficiente e faleceu com 39 anos. Na semana passada, o “namorado” mostrou-me uma fotografia tipo passe que os dois tinham tirado. Pela primeira vez, vi-a com um sorriso lindo e iluminado no rosto.





Canon in D - Aria Celestina

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ao calhas

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Reflexão de Segunda-Feira

Coisas que deviam ser proibidas antes dos 50 anos:

  • Casar
  • Votar
  • Ter filhos
  • Morrer
  • Fazer análises clínicas
  • Ter acesso à Internet
  • Trabalhar

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Cimeira Ibero-Americana

Descobri, o magalhães veio para substituir o galo de Barcelos!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Um post de quilómetro, mas que me apetece pôr aqui.

O cágado


Almada Negreiros


Havia um homem que era muito senhor da sua vontade. Andava às vezes sozinho pelas estradas a passear. Por uma dessas vezes viu no meio da estrada um animal que parecia não vir a propósito — um cágado.

O homem era muito senhor da sua vontade, nunca tinha visto um cágado; contudo, agora estava a acreditar. Acercou-se mais e viu com os olhos da cara que aquilo era, na verdade, o tal cágado da zoologia.

O homem que era muito senhor da sua vontade ficou radiante, já tinha novidades para contar ao almoço, e deitou a correr para casa. A meio caminho pensou que a família era capaz de não aceitar a novidade por não trazer o cágado com ele, e parou de repente. Como era muito senhor da sua vontade, não poderia suportar que a família imaginasse que aquilo do cágado era história dele, e voltou atrás. 0uando chegou perto do tal sítio, o cágado, que já tinha desconfiado da primeira vez, enfiou buraco abaixo como quem não quer a coisa.

O homem que era muito senhor da sua vontade pôs-se a espreitar para dentro e depois de muito espreitar não conseguiu ver senão o que se pode ver para dentro dos buracos, isto é, muito escuro. Do cágado, nada. Meteu a mão com cautela e nada; a seguir até ao cotovelo e nada; por fim o braço todo e nada. Tinham sido experimentadas todas as cautelas e os recursos naturais de que um homem dispõe até ao comprimento do braço e nada.

Então foi buscar auxílio a uma vara compridíssima, que nem é habitual em varas haver assim tão compridas, enfiou-a pelo buraco abaixo, mas o cágado morava ainda muito mais lá para o fundo. Quando largou a vara, ela foi por ali abaixo, exatamente como uma vara perdida.

Depois de estudar novas maneiras, a ofensiva ficou de fato submetida a nova orientação. Havia um grande tanque de lavadeiras a dois passos e ao lado do tanque estava um bom balde dos maiores que há. Mergulhou o balde no tanque e, cheio até mais não, despejou-o inteiro para dentro do buraco do cágado. Um balde só já ele sabia que não bastava, nem dez, mas quando chegou a noventa e oito baldes e que já faltavam só dois para cem e que a água não havia meio de vir ao de cima, o homem que era muito senhor da sua vontade pôs-se a pensar em todas as espécies de buracos que possa haver.

— E se eu dissesse à minha família que tinha visto o cágado? - pensava para si o homem que era muito senhor da sua vontade. Mas não! Toda a gente pode pensar assim menos eu, que sou muito senhor da minha vontade.

O maldito sol também não ajudava nada. Talvez que fosse melhor não dizer nada do cágado ao almoço. A pensar se sim ou não, os passos dirigiam-se involuntariamente para as horas de almoçar.

— Já não se trata de eu ser um incompreendido com a história do cágado, não; agora trata-se apenas da minha força de vontade. É a minha força de vontade que está em prova, esta é a ocasião propícia, não percamos tempo! Nada de fraquezas!

Ao lado do buraco havia uma pá de ferro, destas dos trabalhadores rurais. Pegou na pá e pôs-se a desfazer o buraco. A primeira pazada de terra, a segunda, a terceira, e era uma maravilha contemplar aquela majestosa visibilidade que punha os nossos olhos em presença do mais eficaz testemunho da tenacidade, depois dos antigos. Na verdade, de cada vez que enfiava a pá na terra, com fé, com robustez, e sem outras intenções a mais, via-se perfeitamente que estava ali uma vontade inteira; e ainda que seja cientificamente impossível que a terra rachasse de cada vez que ele lhe metia a pá, contudo era indiscutivelmente esta a impressão que lhe dava. Ah, não! Não era um vulgar trabalhador rural. Via-se perfeitamente que era alguém muito senhor da sua vontade e que estava por ali por acaso, por imposição própria, contrafeito, por necessidade do espírito, por outras razões diferentes das dos trabalhadores rurais, no cumprimento de um dever, um dever importante, uma questão de vida ou de morte — a vontade.

Já estava na nonagésima pazada de terra; sem afrouxar, com o mesmo ímpeto da inicial, foi completamente indiferente por um almoço a menos. Fosse ou não por um cágado, a humanidade iria ver solidificada a vontade de um homem.

A mil metros de profundidade a pino, o homem que era muito senhor da sua vontade foi surpreendido por dolorosa dúvida — já não tinha nem a certeza se era a qüinquagésima milionésima octogésima quarta. Era impossível recomeçar, mais valia perder uma pazada.

Até ali não havia indícios nem da passagem da vara, da água ou do cágado. Tudo fazia crer que se tratava de um buraco supérfluo; contudo, o homem era muito senhor da sua vontade, sabia que tinha de haver-se de frente com todas as más impressões. De fato, se aquela tarefa não houvesse de ser árdua e difícil, também a vontade não podia resultar superlativamente dura e preciosa.

Todas as noções de tempo e de espaço, e as outras noções pelas quais um homem constata o quotidiano, foram todas uma por uma dispensadas de participar no esburacamento. Agora, que os músculos disciplinados num ritmo único estavam feitos ao que se quer pedir, eram desnecessários todos os raciocínios e outros arabescos cerebrais, não havia outra necessidade além da dos próprios músculos.

Umas vezes a terra era mais capaz de se deixar furar por causa das grandes camadas de areia e de lama; todavia, estas facilidades ficavam bem subtraídas quando acontecia ser a altura de atravessar uma dessas rochas gigantescas que há no subsolo. Sem incitamento nem estímulo possível por aquelas paragens, é absolutamente indispensável recordar a decisão com que o homem muito senhor da sua vontade pegou ao princípio na pá do trabalhador rural para justificarmos a intensidade e a duração desta perseverança. Inclusive, a própria descoberta do centro da Terra, que tão bem podia servir de regozijo ao que se aventura pelas entranhas do nosso planeta, passou infelizmente desapercebida ao homem que era muito senhor da sua vontade. O buraco do cágado era efetivamente interminável. Por mais que se avançasse, o buraco continuava ainda e sempre. Só assim se explica ser tão rara a presença de cágados à superfície devido à extensão dos corredores desde a porta da rua até aos aposentos propriamente ditos.

Entretanto, cá em cima na terra, a família do homem que era muito senhor da sua vontade, tendo começado por o ter dado por desaparecido, optara, por último, pelo luto carregado, não consentindo a entrada no quarto onde ele costumava dormir todas as noites.

Até que uma vez, quando ele já não acreditava no fim das covas, já não havia, de fato, mais continuação daquele buraco, parava exatamente ali, sem apoteose, sem comemoração, sem vitória, exatamente como um simples buraco de estrada onde se vê o fundo ao sol. Enfim, naquele sítio nem a revolta servia para nada.

Caindo em si, o homem que era muito senhor da sua vontade pediu-lhe decisões, novas decisões, outras; mas ali não havia nada a fazer, tinha esquecido tudo, estava despejado de todas as coisas, só lhe restava saber cavar com uma pá. Tinha, sobretudo, muito sono, lembrou-se da cama com lençóis, travesseiro e almofada fofa, tão longe! Maldita pá! 0 cágado! E deu com a pá com força no fundo da cova. Mas a pá safou-se-lhe das mãos e foi mais fundo do que ele supunha, deixando uma greta aberta por onde entrava uma coisa de que ele já se tinha esquecido há muito - a luz do sol. A primeira sensação foi de alegria, mas durou apenas três segundos, a segunda foi de assombro: teria na verdade furado a Terra de lado a lado?

Para se certificar alargou a greta com as unhas e espreitou para fora. Era um país estrangeiro; homens, mulheres, árvores, montes e casas tinham outras proporções diferentes das que ele tinha na memória. 0 sol também não era o mesmo, não era amarelo, era de cobre cheio de azebre e fazia barulho nos reflexos. Mas a sensação mais estranha ainda estava para vir: foi que, quando quis sair da cova, julgava que ficava em pé em cima do chão como os habitantes daquele país estrangeiro, mas a verdade é que a única maneira de poder ver as coisas naturalmente era pondo-se de pernas para o ar...

Como tinha muita sede, resolveu ir beber água ali ao pé e teve de ir de mãos no chão e o corpo a fazer o pino, porque de pé subia-lhe o sangue à cabeça. Então, começou a ver que não tinha nada a esperar daquele país onde nem sequer se falava com a boca, falava-se com o nariz.

Vieram-lhe de uma vez todas as saudades da casa, da família e do quarto de dormir. Felizmente estava aberto o caminho até casa, fora ele próprio quem o abrira com uma pá de ferro. Resolveu-se. Começou a andar o buraco todo ao contrário. Andou, andou, andou; subiu, subiu, subiu...

Quando chegou cá acima, ao lado do buraco estava uma coisa que não havia antigamente — o maior monte da Europa, feito por ele, aos poucochinhos, às pazadas de terra, uma por uma, até ficar enorme, colossal, sem querer, o maior monte da Europa.

Este monte não deixava ver nem a cidade onde estava a casa da família, nem a estrada que dava para a cidade, nem os arredores da cidade que faziam um belo panorama. O monte estava por cima disto tudo e de muito mais.

O homem que era muito senhor da sua vontade estava cansadíssimo por ter feito duas vezes o diâmetro da Terra. Apetecia-lhe dormir na sua querida cama, mas para isso era necessário tirar aquele monte maior da Europa, de cima da cidade, onde estava a casa da sua família. Então, foi buscar outra pá dos trabalhadores rurais e começou logo a desfazer o monte maior da Europa. Foi restituindo à Terra, uma por uma, todas as pazadas com que a tinha esburacado de lado a lado. Começavam já a aparecer as cruzes das torres, os telhados das casas, os cumes dos montes naturais, a casa da sua família, muita gente suja de terra, por ter estado soterrada, outros que ficaram aleijados, e o resto como dantes.

O homem que era muito senhor da sua vontade já podia entrar em casa para descansar, mas quis mais, quis restituir à Terra todas as pazadas, todas. Faltavam poucas, algumas dúzias apenas. Já agora valia a pena fazer tudo bem até ao fim. Quando já era a última pazada de terra que ele ia meter no buraco, portanto a primeira que ele tinha tirado ao princípio, reparou que o torrão estava a mexer por si, sem ninguém lhe tocar; curioso, quis ver porque era — era o cágado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O TEMPO QUE CONTINUA POR INAUGURAR

O século e o milénio
Ainda nem se notam
Apenas na falta de duas torres

É tudo igual
Os mesmos segundos cronometrados ao segundo
A mesma astronomia suburbana de cidades satélites
Os valores universais que sobem e descem na Bolsa
As paixões a queima-roupa
Com um poema feito por esticão

Nenhuma novidade
Continua a descoberta líquida de Marte
Enquanto os preços disparam em todas as direcções
E a pobreza se propaga em múltiplas frentes de combate

Aos Deuses das mesmas prerrogativas e incógnitas
Se roga via e-mail com uma password estritamente pessoal
Se suplica pela estabilidade dos mercados
Para se apostar nas novidades mais rentáveis
Aquelas com as quais se atinge o éden e o nirvana

Ninguém vive ainda no terceiro milénio
Porque o XIX continua a ser o século passado



14-8-2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Só de um fôlego

É claro que terei de meter os pés pelas mãos, o coração pela cabeça, os dias pelas palavras mais baralhadas, mais desconexas, porque as coisas são mesmo assim, enredadas umas nas outras, sem pontos de partida, com a morte ali, a fintar-nos em cada pestanejar, sem que possamos fazer-lhe frente, gritar agora não, ainda não, há contas a ajustar, há verdades para serem anunciadas, há assuntos por resolver e gritar tudo isso enquanto é tempo, enquanto as pessoas que conhecemos estão aí, vivinhas e de boa saúde apesar da idade, mas não é justo, basta adiar um dia ou dois, umas semanas até, caramba, não é assim tanto, para quem adiou até agora, era só mais um bocadinho, o tempo suficiente para referir algumas das características humanas muito particulares daqueles que, não nos sendo próximos, fazer parte de nós, das nossas circunstâncias, mas de repente abre-se o jornal e o nome aparece ali, com uma cruz, e lá se perdeu a oportunidade, que rasteira, assim não vale, os mortos, mesmo quando deixam tudo pela metade, ficam com todas as suas coisas muito bem concluídas, ao passo que a nossa memoria nunca se conclui em relação a eles, a todos os que vamos esquecendo porque a vida continua.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Chá de limão e um anti-gripe

Depois de inserir o PIN é preciso ter cuidado com o NIB para nunca se perder o estatuto VIP que ajuda na evolução do PIB.

No Natal, um termómetro digital!

sábado, 18 de outubro de 2008

Amizades II

Não compreendo o porquê da luz que entra em minha morada. A minha porta é tão estreita e mesmo assim, há pessoas que vêm e trazem-me mimos, oferecem-me a paciência dos olhos e dos ouvido, os seus anjos com açúcar. Como agradecer a vida?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Silêncio imperfeito



Um segredo é dito, mas ninguém o ouve porque os olhos estão fechados para a frente. Já não há atenção aos pormenores de um rosto, de um frio que percorre a rua triste e deserta. Desconhece-se tudo. O entardecer espalha-se num fogo escuro.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Amizades

Ao virar da esquina:

— Ora viva, há tanto tempo!
— É verdade, quem diria, ainda na semana passada pensei em ti.
— Pois, sabes como é a vida, uma pressa danada...
— Se sei! Ainda agora venho a correr porque estou a tratar da papelada do meu carro novo.
— Oh, também tenho de chegar a horas ao ginásio. É preciso estar em forma e cuidar da saúde.
— Claro, basta pensar nos exemplos à nossa volta... Sabes do Andrade, não?
— Chocante, um tipo tão porreiraço e por causa do AVC já não anda nem fala.
— Um dia destes havíamos de ir lá fazer-lhe uma visita. Se bem que...
— Ok, depois, quando calhar, combina-se. É melhor deixar passar o Natal.
— Isso... Gostei de te ver, mas não posso demorar-me mais.
— Nem eu, adeusinho.
— Até uma próxima.

sábado, 11 de outubro de 2008

Anti-rugas

Descobri que, lá para o Natal, vou fazer 474 anos. Mas não aparento, deve ser por andar a respirar o ar puro dos montes!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

As minhas contas estavam certinhas

Socorro, andam a brincam com o meu nome! São eles... Que culpa tenho do pote ter caído?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Deafness

Declaração de José Saramago à TSF sobre a polémica que o filme BLINDNESS causou nos EUA: "É uma associação de cegos que decidiu ter uma opinião sobre um filme que, infelizmente, não consegue ver".

Se não tivesse escutado, de viva voz e vivo ouvido, esta frase ao nosso Nobel, confesso que não acreditaria.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Tostão furado

Uma banca-rota não se pode remendar, mas é preciso aproveitar todas as linhas e alinhavos, os fiapos até à última, conta-gostas vazio porque o mel foi coado do fundo, onde já nem há migalhas para contar a história dos míseros impérios e um zero absoluto será escrito numa pedra.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um peso insuportável

Para que tanta angústia em ganhar a vida? A bolsa cai e a morte deve ser leve.

sábado, 27 de setembro de 2008

Um de cada vez

Nada mais assustador do que o dia de amanhã. E só nele há toda a esperança.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sempre com um pé atrás

Mais ou menos ao meio da ponte, espreita-se para a vertigem do correr das águas, enquanto as mãos se agarram com toda a força. Será um bom sítio para meditações profundas?

Por mim, não penso em nada quando penso. E só poderia ter ideias se estivesse distraída.

sábado, 20 de setembro de 2008

Chamdas automáticas

A escada subia em caracol, subia à pressa para apanhar todos os degraus que lhe apareciam pela frente, subia com saltos altos, num ritmo seguro de iogurtes líquidos, subia porque todos os documentos urgentes teriam de ser despachados por via express, subia até atingir a troposfera, estratosfera, a mesosfera, a ionosfera e a exosfera, mas de repente hesitou e num fugaz lapso de memória parou: afinal, era para subir ou descer?

Ligou para as informações e ficou a ouvir a música de espera.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Só 7 medalha, mas a culpa foi dos media. Quando ignorados, são campeões!

Afinal, tenho mesmo de reconhecer que algumas modalidades paralímpicas deixaram-me boquiaberta. Quase não dá para acreditar que, por exemplo, uma pessoa só com uma perna faça um salto de 5 metros. E um jogo de rugby em cadeiras de rodas é qualquer coisa do outro mundo. Caramba!

Os nossos participantes, são bons portugueses. Nem menos, nem mais.

Vamos nessa!

Richard Branson, terá dito que próximos anos poderemos pensar numa estação espacial aqui em Portugal. Ora, das duas, três:
— ou o senhor anda completamente com a cabeça nas nuvens e não sabe nada do chão onde pisa;
— ou, ofuscado pelas lantejoulas do jet 7 nacional, quis angariar clientes para as suas viagens;
— ou é bem capaz de, com umas moedas tiradas do bolso, arrasar com este rectângulo à beira mar semeado e enxotar com a meia dúzia de habitantes lusos para fora da galáxia, onde não chateiem mais.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Setembro

Atingi o máximo de faltas porque não tive coragem para os Julhos e Agostos que têm passado por aí. E agora tenho uma certa pena por não poder repetir e a minha pele ter ficado tão pálida, tão seca que há-de cair como as folhas de Outono.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A bem do PIB

O crime organizado devia ter uma contabilidade própria, pagar impostos e pautar-se pelas leis do código de trabalho. Quem o pratica teria, em caso de azar, acesso ao subsídio de desemprego. Porque a vida não está fácil para ninguém.

domingo, 7 de setembro de 2008

É com certeza uma escola portuguesa

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Amigas, que vos parece?


Medalha de ouro antecipada para Bento Amaral! Porque sim.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Animal, vegetal e mineral

Estaciona em segunda fila e apressado, sai da carrinha cafés Camelo. Não há dúvida, pela maneira como veste, é mesmo um vendedor que entra na padaria de marca Nicola. Sentir-se-á profissionalmente realizado?
Afinal, quase todos os nomes dos bichos têm outros significados: Seu cavalo, não se estaciona em segunda fila! 
— Fui só comprar uma água das pedras... — justifica-se. Ainda assim, não passa dum grandíssimo calhau, duma verdadeira anta. Teria desculpa oferecendo uma flor, mas deve ser um valente nabo.
Ou nem tanto, pois faz-se acompanhar por uma gata com lábios de rubi e um jeito de caju.

Quem foi o Nicola?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

EU ACUSO

Passo a  explicar que, sendo cliente PT, paguei sempre o que me era devido, ou seja, Internet + mensalidade do telefone (€ 14,150) + chamadas.
Ora, quando começaram a chegar facturas de Internet com valores muito acima do estipulado, fiz uma reclamação e não paguei. Segundo a PT, era necessário apresentar documentos, os mesmos que já tinham sido fornecidos no momento do contrato. Nestas situações as pessoas, para não se chatearem, costumam ceder facilmente. Porém, há alturas em que as regras devem ser contrariadas até ao limite. Como consequência, a net foi-me cortada.
Assunto resolvido, julguei! Procuro outra operadora, a qual, para meu grande espanto, é muito mais barata pois não tem qualquer mensalidade. Mas descubro que a PT também isenta de mensalidade os seus novos clientes.
Coisa bonita, sim senhor, honrosa de um país como o nosso!
E como se todos estes disparates não bastassem, a PT agora ameaça-me com um processo judicial se não pagar as facturas em atraso.
Dá ou não vontade de bater palmas?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fui abduzida


Já não tenho dúvidas, eles existem mesmo, cuidado!!!
Ainda bem que melhoraram ligeiramente a minha aparência...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Coincidências

A teoria do caos também pode ser uma explicação. Os aviões e helicópteros andam sempre aqui por cima, podem ser da vigilância contra incêndios ou da google earth. Mas de noite assustam. Os motores ouvem-se ao longe enquanto se aproximam muito lentamente. Quando chegam, quase poisam nos telhados de todas as casas. Estarão a espreitar para o interior das nossas vidas? The Big Brother... Não admira que o P.R., de férias no Algarve, tenha mandado interditar o espaço aéreo sobre a sua residência. Não admira, mas estranha-se; um ar de suspeição paira baixinho, já que as alturas estão proibidas. Só em caso de absoluta necessidade é que os franco-atiradores disparam do alto de alguma varanda ou telhado. As negociações para libertar os reféns falharam, mas operação foi um êxito.
Não acredito nada na teoria do caos. E a China, com é natural, está em segurança máxima.

Falhei à abertura dos Jogos Olímpicos?

Pois, se calhar não havia mesmo outra solução. Tive de abaixar a cabeça para que o helicóptero não ficasse embaralhado nos meus cabelos. Já fechei as cortinas de maneira a evitar outros pesadelos. O único pormenor que me impressiona é o directo. Posso descansar no sofá da sala e dormitar com o comando do mundo nas mãos. Só que às vezes as coisas não funcionam como deviam. E é preciso agir com eficiência. Desligando a televisão. E fugir às hélices que passam rasantes ao meu ombro. Tenho sono, esta noite não me lembro de ter sonhado.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Enlados e pronto-a-viver

Tudo tem de ser feito rapidamente, antes que o dia acabe, as lojas fechem, os frutos apodreçam, o corpo esmoreça, a cabeça se esgote....

Sorte é que as coisa já são todas instantâneas, com um quotidiano prático até ao limite! E na pressa que a pressa tem, não há um segundo a perder. Enquanto se aquece uma sopa de pacote, consulta-se os livros de auto-ajuda onde são ensinadas as técnicas de enriquecimento fácil e felicidade prolongada! De A a Z não falta nada ao mais comum do mortais.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ai ai!...

Será muito trágico ter os dias contados? Se forem os suficientes, não há mal nenhum, desde que não saibamos o número exacto. Nem aproximadamente.

Mas posso ter os dias contados na Internet... Se não estiver aqui nos próximos dias, é porque cai sem bater no chão. Reclamações para estas bandas!

domingo, 3 de agosto de 2008

Aventuras e Lugares

Ganho em manhãs frescas de Verão tudo o que perco:

— um barco que passa debaixo dos pés
— uma árvore pesada de nomes romanos
— um castelo sem área quadrada

Perco porque os meus olhos se soltam para longe
E o vento agita as páginas do livro!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Utopia

Estou a precisar de mudar de paisagem. Apetecia-me emigrar, mas não para qualquer parte. Só poderia ir para um sítio onde se falasse português, que tivesse um clima mais ou menos mediterrâneo, localizado junto ao mar, onde a fauna não fosse muito selvagem, sobretudo que não tivesse cobras (a minha fobia de estimação).

Queria um lugar com todos estes requisitos e só mais um: Que fosse um país minimamente civilizado em termos de justiça, saúde, educação...

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Casados há cinquenta e dois anos

O ritual repete-se todas as semanas, quando chega o jornal. Antes de qualquer notícia, vai directo para a página da necrologia e analisa as idades dos mortos...

— Olha, este andou comigo na tropa!
— Mostra, deixa ver...
— Aqui, mulher. Foi um que até pagou para livrar.
— Hummm, tens a certeza?
— És mesmo teimosa.


... O teu pai está baralhado porque eu não me lembro nada daquele homem ter andado na tropa.

sábado, 26 de julho de 2008

Devo ter 75 anos

Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias. Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias. Aos 30 anos pensamos que ninguém mais tem ideias. Aos 40 achamos que as ideias dos outros são todas nossas. Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias. Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar. Aos 70 só pensar já nos faz dormir. Aos 80 só pensamos quando dormimos.

(Fala de Bartolomeu Sozinho, personagem
de Venenos de Deus, Remédios do Diabo,
de Mia Couto, Editorial Caminho)


Copiei este bilhete postal do livro que andei a ler.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Inquietações

As estrelas têm luz própria, ou apenas são iluminadas pelos flashs das revistas?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Assim, de repente e ao longe...

A minha mãe continua inspirada. Ontem fomos dar a nossa volta do costume, ao fim da tarde...

— Um letreiro no portão do cemitério... Aluga-se?!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Chorem meninas, chorem...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Saudades? Nem pó...


É verdade DD, nem uma pecinha de “Lego” sobrou. Nem era para sobrar. Afinal, a infância não é um tempo. São os cheiros, os sabores e as músicas. Mais nada.

domingo, 20 de julho de 2008

Há domingos assim...

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Reivindico!


No imbróglio de dias nacionais e internacionais, porque razão não há-de haver um dia da pedra lascada e das ovelhas que regressam ao seu redil?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sabodoria sénior

— Amanhã a temperatura vai descer.
— Vai?
— Está escrito n'O Seringador.

*** *** ***

— Come, filha, senão ficas gorda!
— ????
— Com a barriga cheia de ar, inchas.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ai que nervos!!!


Há cada modernice! De todas, a que menos percebo é a moda de ir de férias. Que grande maçada... Vai tudo em desbandada, cada pessoa “foge” para o seu canto, desaparece para quanto mais longe melhor...

Estarei com dores de cotovelo?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Quem me rapinou os livros do Prof.º Agostinho da Silva?

sábado, 5 de julho de 2008

Lembrete

Num canteiro de jardim, vou colocar uma arranca de pé de esquecimento. Depois, é só regar todos os dias, não me posso esquecer. É que dantes, como tinha boa memória, preocupava-me imenso, sobretudo com o futuro. Era uma menina velha e chata. Agora só sou chata. E velha. E também menina... Falta-me é a memória. Por isso, não quero saber do futuro.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

E mais não digo

Como acção de desagrado contra os aumentos de 30 % para as missas mandadas rezar e para os sacramentos, declaro que, ENQUANTO FOR VIVA, NUNCA HEI-DE MORRER.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Regressos

MANHÃ
tempo de todas as Bênçãos

um dia depois do outro
NASCER

não aprendo nada
só a inevitável exultação da alegria

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Máscaras de cristal

Dizem que estou viciada na Internet. Talvez, mas de uma forma peculiar. São as pessoas, no seu despojado anonimato, que me fascinam e me incutem uma profunda curiosidade em relação ao meu próprio Ser. Aqui, no lugar das palavras públicas, dos desabafos colectivos, tudo acaba por ficar reconfortantemente íntimo. E eis o paradoxo: A verdade é a que mostra ou se esconde?

terça-feira, 24 de junho de 2008

Coisas que me vêm à cabeça

Olha, se faz favor, passa-me essas sardinhas que estão aí à mão, ao pé de ti!

A língua portuguesa também é a minha pátria.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Breve

Já se nasce tão antes do tempo
E vive-se para além dos anos

Ainda assim
É só um abrir e fechar de olhos

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Outra dúvida

Não tenho nem nunca tive:

  • telemóvel
  • sapatos altos
  • carteira
  • carta de condução
  • óculos de sol
  • relógio
  • cartão de crédito

Serei livre?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Já não é brincadeira

É impressão minha ou estamos mesmo à beira do caos? Pelo que ouço, é de assustar. O que é preciso acontecer para as pessoas se darem conta da realidade? Talvez a eliminação rápida do Europeu nos fizesse bem...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Povo que lavas no rio com detergentes

Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

Lavoisier



Assim, compra-se um champô anti-caspa, fica-se com a cabeça mais leve, atira-se a embalagem para um qualquer ecoponto. Depois é só acreditar, com muita fé, no milagre de que tudo será bem reciclado ou reutilizado. Então, a poluição, quando existe, não fará parte da própria natureza? Qual é a sua definição exacta? Segundo dizem, antes de haver vida, a Terra era um planeta sufocado por gases tóxicos.

Complicado demais!

sábado, 31 de maio de 2008

A sensatez de pernas prò ar...

Nos tempos que correm e tropeçam, não será, no mínimo, lamentável qualquer publicidade ou incentivo ao crédito?

Um espanhol, atulhado em dívidas, faz um sorteio da casa onde vive.


Falta nada para as pessoas rifarem a sua própria alma!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Faz mal andar à chuva!

Vem-me cada pergunta à moleirinha... Quem pagará aos heróis da selecção?
Sou mesmo tonta, pois é claro que os cachopos jogam só por amor pátrio à camisola.

Ai Mofina, Mofina!

terça-feira, 20 de maio de 2008

O medo


Fugir do medo não atenua o pânico. Pelo contrário, quanto mais se corre, mais vamos ficando sem caminho. Os nossos passos assaltam-nos ao virar da primeira esquina.

O medo murcha quando o fitamos nos olhos.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Desde a primeira partícula!




Quando não há nada para fazer, tudo o que acontece é maravilhoso. Incluindo o Universo!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Funismos!




Estranho? Ver aqui e aqui.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vale a pena!

Porque há causas que merecem ser louvadas, aqui fica, a explicação e o convite...



“Estrelas que Voam para os Céus – Aceitar os Desígnios de Deus”

“Estrelas que Voam para os Céus” é uma obra da autoria do Joaquim Santos, cujos direitos de autor da primeira edição – entretanto, esgotada – reverteram para a associação “A Nossa Âncora”.
Já em segunda edição, este livro trata da recolha e compilação dos testemunhos de vários pais que perderam os filhos. Leva a um melhor entendimento do “desafio” da longa caminhada do luto, do sentimento de dor pela partida de um(a) filho(a)... Revela quais as maiores dificuldades no luto, a vivência deste estado com fé, ou não, e aquilo que os pais acreditam que aconteceu, ou continua a acontecer, após a partida dos seus filhos. Uma homenagem a todas as maravilhas que nunca se perdem em tempo nenhum: são estrelas que brilham e povoam os céus!
“Estrelas que Voam para os Céus” foi prefaciado pela escritora Rita Ferro: “Procurei, procurei, procurei, e não encontrei metáfora mais bela para vos oferecer neste Prefácio que melhor se aproximasse da dimensão da vossa dor, da vossa revolta e da vossa aceitação. Se a morte, a verdadeiramente morte, é o esquecimento, então os vossos filhos não morreram. Nunca estiveram tão vivos, tão próximos, tão dentro de vós.”
A nota de abertura coube a Emília Agostinho – presidente da associação “A Nossa Âncora” –, a leitura da teologia foi feita por Luís Miguel Ferraz – jornalista, teólogo da diocese de Leiria-Fátima – e a leitura da psicologia por Carlos Pires – psicólogo clínico, professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra.





O autor:

Joaquim Santos é natural de Pousos e reside em Colmeias – Leiria.
Jornalista, é director do mensário “Notícias de Colmeias”, tendo sido, inclusive, o seu fundador. Depois de uma passagem pelo semanário “Região de Leiria”, é jornalista profissional no semanário “O Mensageiro”, do Seminário Diocesano de Leiria.
Recebeu vários prémios jornalísticos e obteve outros reconhecimentos de âmbito profissional e literário – merecedor de votos de louvor por parte de algumas instituições nacionais.
Soma diversas participações sociais e cívicas, em acontecimentos de índole cultural, social, política e desportiva.
Enquanto jovem, foi elemento destacado no desporto distrital; um dos primeiros produtores e realizadores de programas de rádio, em várias estações de Leiria; actor convidado em três novelas portuguesas; membro da Assembleia de Freguesia de Colmeias; orador em vários colóquios, júri em festivais de música e em desfiles de moda; colaborador em estudos de mercado para uma instituição de defesa do consumidor; coordenador de sondagens para institutos e universidades públicas e membro da equipa de marketing do Europeu de Futebol de 2004.
Representou, no distrito de Leiria, o grupo português da ONG “International Friendship League”, que trabalha próximo da UNESCO e ONU, e é membro fundador do Conselho Nacional da Juventude.
Representa, actualmente, a associação “A Nossa Âncora” nos distritos de Leiria e Santarém, desde Outubro de 2006, ano em que viu partir a sua filha Eduarda Santos, a EDUARDA DE SEMPRE.

CONVITE

O lançamento do livro “Estrelas que Voam para os Céus – Aceitar os Desígnios de Deus”, realizar-se-á no dia 17 de Maio (Sábado) de 2008, pelas 16.30 horas, na Galeria Municipal de Montemor-o-Velho (praça da República).
Haverá um momento musical a cargo da jovem banda BlindNight.
A apresentação da obra será efectuada por Luís Miguel Ferraz, teólogo da Diocese Leiria-Fátima e da escritora Lurdes Breda.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Resposta a uma certa jardineira

UMA COISA MUITO IMPORTANTE


Já fiz mil tentativas para pensar

Às vezes penso nas coisas em que não consigo pensar
e penso nisso até ficar com os olhos a arder

Há dias em que as ideias ficam apagadas
e nem com fósforos se conseguem acender

Não tenho nenhum tipo de planos para a vida
por isso não faço mais do que sentir os meus cabelos

A chuva provoca-me um sono profundo
mas nem por isso acredito muito em extraterrestres

Não há nada que na vida faça muito sentido
é possível encontrar um poema dentro de um limão

As metáforas só valem quando são puras
mas agora as minhas mãos andam tão ácidas

Não sei o quê pensar das coisas que não penso

Tudo o que acontece pode não acontecer
posso ser um cometa com os cabelos a crescer

e pensar não faz aquecer os ombros

Gostava de encontrar um rio muito redondo
para nunca me perder enquanto escrevo

quarta-feira, 30 de abril de 2008

O melhor é mesmo guardar silêncio

Dia 30 de Maio - Jornal da Tarde RTP 1

Entre uma Ministra da Educação a dizer que chumbar é fácil e a invenção duma porta inteligente que até se abre por telemóvel, qual é a diferença? Ou quais as semelhanças?

Por essas e por outras, é que só me entendo com os meus penedos!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Difícil


A rapidez, cada vez mais acentuada, na qual tudo acontece por breves instantes, converterá a vida em algo absolutamente efémero? Se a reflexão for também apressada, não chegaremos a outra conclusão.
Mas, desligando os motores do tempo, por pouco tempo que seja, talvez possamos encontrar a perpetuidade dos sonhos, das palavras, das flores, dos próprios dias.

Porque, em cada nada que acaba, há um tudo que fica.

sábado, 19 de abril de 2008

Precisa-se um Noé!

Com tanta chuva, ainda há-de secar-se o mar!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Métricas...

A que distância começa o longe?

Haverá um longe mais longe do que todos os lugares longínquos?


Aqui, estou longe.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Pensamentos de rodapé

O desconhecimento deve ser a única ciência exacta.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ora viva, também por aqui?...

Com o apogeu da Internet, viveremos mesmo numa aldeia global? Se me é permitido afirmar, direi que o termo aldeia é um excesso. Este espaço “Internético” é muito mais pequeno. Tão reduzido que até se torna positivamente íntimo e de um agradável aconchego. E é nos blogues que se atinge o cúmulo dessa unidade existencial. De facto, por muito esforço que se faça, damos sempre com os mesmos perfis. Somos uma família de desconhecidos. Estamos espalhados por todos os links. Quase dá vontade de trocar abraços.

sexta-feira, 28 de março de 2008

E tenho dito!

Não tenho nada para dizer, e digo: Somos todos azuis, de um azul marinho.
Não sei escrever sem lapsos, porque tenho um lapso de tempo que nem cabe na memória.

Não tenho nada.

Não tenho nada com isso. Excepto, talvez, uma vontade de mudar o meu número de calçado. E uma vontade também se ser como sou sem ligar a ninguém.

Mas as minhas vontades não contam.

sábado, 22 de março de 2008

Mais olhos do que barriga


O primeiro ovo de chocolate que recebi veio do Brasil, pelas mãos do saudoso tio Albano (Sapateiro).
Fiquei de olhos arregalados... Tanto chocolate!!!
Quando o abri e verifique que era oco e não maciço, tive uma certa decepção. Pois... Sou mesmo exagerada.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Os primeiros passos

Comecei este blogue faz hoje um ano...

Nunca imaginei que houvesse pessoas com paciência para me seguirem pelos atalhos desvairados que percorro, na minha condição de simples e muito atarantada pastora.

A todos agradeço!

Aproveito para desejar uma BOA PÁSCOA!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Chão de pássaros


Quero ir para o meio de um campo aberto, hoje, que a terra está húmida e perfumada.
Redopiando ao som da chuva, sacarei do meu regaço, as sementes de pássaros que espalharei aos quatro ventos.

domingo, 9 de março de 2008

Dança da chuva

O amor não se explica. É a explicação.

Pode substituir-se amor por qualquer outra palavra.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Para a minha Professora de português do 2º ano do Ciclo

As Palavras... Sempre!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Identidade e inquietação

Pelas palavras, não sei bem, se me mostro tal como me vejo, ou se me oculto atrás de um perfil que, apesar de ser anónimo, tem os traços da mais pura realidade.

Quem sou?

Nos espelhos não me reconheço. Por isso, escrevo.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

As casas e seus beirais

É quase o regresso das andorinhas...
Vêm habitar memória outra vez,
Mas quantas das casas são já mortas?
Quantos telhados caídos no chão?

Não, não vasculham nos escombros
Construem é outros ninhos
E fixam no instinto um novo sul.

Uma nova vida eclode
Será essa a futura direcção!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O eixo imaginário do mundo

Às vezes é preciso parar para seguir em frente,
Soprar muito ao de leve para mover montanhas,
Apagar as palavras para que o poema seja escrito,
Perder as forças para recuperar a coragem,
Afastar os olhos para que a paisagem fique nítida,
Esquecer o futuro para lembrar que existe o presente...

Às vezes só as banalidades
São a única forma de consciência!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Instante

Os dias crescem
Uma hora por inteiro

Mas não há vagar para nada
Tudo é a correr

O rio pára
Qual será o mistério?

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Distante


Afinal confesso, sou uma pastora malograda.
Meus pés não tocam no chão porque calço pantufas
E as minhas mãos só têm nostalgia da terra,
Do húmus forte e carregado de perfumes.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Filosofices

Mar e deserto não têm referências.
Não é possível apontar:
— Ali aquela onda, atrás da duna da esquerda!

*** *** ***

Poderia ser um bem imóvel, se não mexesse tanto.

*** *** ***

Em mim e nas minhas circunstâncias, há todas circunstâncias dos outros.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Quem diria!...

Por acaso nunca fumei, nem sequer por brincadeira. Mas não me mete nenhuma impressão o fumo dos cigarros. Jamais me senti incomodada por quem fuma. Por isso, achei de um exagero intolerável a nova lei do tabaco. Se fosse fumadora teria promovido manifestações em cadeia... Sou assim, impulsiva e explosiva!
Mas eis que de repente, descubro uma coisa fantástica: É que as praças, as explanadas, os jardins, todos os sítios que costumavam estar tristemente abandonados, mesmo em dias de Sol, estão agora cheios de gente! E não só de velhos e crianças. Finalmente os jovens e adolescentes saíram das “tocas” e respiram ar livre.
De pálidos e tristes, a juventude vai ficar com uma cor e aparência sadia.
Caso para dizer: Fumar faz bem à saúde!!!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Para meditar...





Milagres com as mãos







Milagres sem mãos

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Proibições

Devia ser proibido

Perder na Bolsa
Perder a bolsa
Não saber da cabeça
Não saber das nuvens
Faltar aos dias de sol
Faltar aos nossos próprios aniversários

Devia ser proibido
Ganhar doenças e anos
Guardar esquecimentos e enganos

Devia ser proibido
Ter as mãos frias, frívolas, mortas

Devia ser proibido
Dormir em casas aquecidas
Acordar ao relento
Deambular pelas esquinas do pensamento

É proibido
Saltar do muro e correr como um gato pardo

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Jardineira, com esta lembrei-me de ti...




Espero que os instrumentos vegetais não sejam transgénicos!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sejamos grandes!

Não é de agora que a minha frouxa experiência me diz que saber ler, interpretar um texto por mais simples que seja, é tão ou mais difícil do que alinhar duas ou três palavras. E é deste analfabetismo funcional que advém muito do atraso sócio-político de que tanto nos queixamos. A partir daqui chega-se ao paradoxo máximo de merecer aquilo que realmente NÃO merecemos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

CONSEGUI !!!

Orgulho ou simplesmente necessidade. O certo é que em questões de blogs tento aprender tudo sozinha... Assim, evito as piadas ou as más respostas.

Estou muito contente porque consegui pôr o meu primeiro pato (em vídeo).

Para não naufragar...

[]

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Não é preciso salvas os maçaricos?

Aeroporto Internacional de Canha

Senhores passageiros, boa viagem, mas cuidado, não embarquem em qualquer patranha!

Patranha?

Substantivo feminino
história mentirosa; peta;
(Do lat. *pastoranèa, «contos de pastores», pelo cast. patraña, «id.»)

ATENÇÃO, ESTOU INOCENTE!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Febre não é certamente e o tecto não cai assim.

Em frente ao ministério, um bombeiro oferece balões aos transeuntes que passam. Eis senão quando, de uma boca de incêndio próxima, aparece a cabeça do ministro que tem cara de Vasco Santana e resmunga:
— Agora não se faz mais nada do que encher balões?
O bombeiro justifica-se com o argumento de que está a seguir ordens superiores. Mas as suas palavras caem em saco roto.


A propósito, acho que perdi o meu poder de compra. Mas não sei onde... Vou chamar os bombeiros porque suspeito que fugiu para cima duma árvore.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Estado gripal!

À saída da estação, um polícia faz um número de malabarismo com sete laranjas. O público aplaude sumariamente porque não é aconselhável passar grande confiança às autoridades. Mas há alturas em que nada faz sentido. Um garoto pede mais malabarismos e apenas fica a saber que é proibido fazer bolas de sabão em espaços abertos. A avó consola-o fazendo girar um guarda-chuva todo colorido. O agente policial fica tão comovido que se demite das suas funções.