segunda-feira, 26 de julho de 2010

POEMA FULMINANTE

É possível ter um ataque súbito de vida
Desses que não têm origem conhecida

E que causam grande consternação

Desta idade… quem diria


Estamos todos sujeitos a nascer de um momento para o outro

Basta bater com a cabeça numa flor

Ou deixar entrar uma formiga miudinha para o peito


Ninguém escapa

Quer se escreva em texto corrido ou entre aspas


Nasce-se com um sorriso crónico

Que não há como o curar

Nem mesmo praticando muita ginástica interplanetária


Além do sorriso

Há outros perigos igualmente alegres

Fatalmente alegres


Não há remédio, nada mata a vida!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

EM TERRA FIRME

Para uma amiga com altas batidas


Estou sempre a perder-me nas coisas que penso

Deixo as palavras esquecidas pelos cantos

Até elas se encherem de bolor e de peneiras miudinhas

Daquelas que entram nos armários para comerem a roupa


Não tenho nenhuma táctica de navegação

Por isso respiro com os olhos fechados

E deixo que o tempo me puxe pelos pés

Fazendo-me crescer ao contrário


Sinto-me crescida desde que comecei a brincar

E a fazer desenhos com o coração


Sei que há estrelas minúsculas por onde posso fugir

Mas decidi ficar até que as formigas se fartem de mim


Já aguento qualquer pedra ou negação

Porque agora só vou pela minha consciência

Contra todos os passos que limitam a liberdade


Perco-me dentro das coisas que penso

Mas insisto e encontro sempre uma saída

Esta é a minha voz

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ÚLTIMA HORA

As cadeiras quando adormecem

Deixam cair a cabeça


Por vezes os braços também caem


É nessa altura que o corpo acorda


E num sobressalto põe-se em pé


Porque está na hora das notícias