quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

NÃO ME FALTE PAPEL


Não me falte o eco do silêncio,
o Sol duro desta idade

sem mãos

a cair para dentro

do Universo...


Não me falte a voz

para enumerar o caos

desta ordem desmedida...


Não me falte a inspiração

para o impossível

das coisas mais irrealizáveis,

nem para o absoluto desafio

dos meus gestos insubmissos...


Não me falte o balanço

para lançar no ar a ousadia

de estar presente

mesmo nos dias mais difíceis...


Não me falte a permanente dúvida

para saber verificar as minhas certezas...


Não me falte o tempo

para que eu possa faltar...

Não me falte o movimento

que me faz ir em busca desse nada

que está por toda a parte...

Não me falte a lucidez

com que forjo a loucura das palavras

coerentemente absurdas...

sábado, 26 de dezembro de 2009

* AMIZADE

Não sei explicar, mas seguramente faltam-me letras com palavras inteiras lá dentro e a cabeça fica muda porque tenta e insiste sem ser capaz de chegar a um alfa onde todas as emoções deveriam começar.

A de agradecer ate o ómega.
A de amizade plena num sistema binário completo, olhos nos olhos que já não têm de fingir nem esconder as lágrimas.
A minha maior verdade é o silêncio grande!

De A de todos os nomes que aguentam todas as minhas loucuras sem fugir.
À Z

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

OUTRA VEZ NATAL

domingo, 13 de dezembro de 2009

A AMEAÇA

Porque a frieza com que as pessoas lidam umas com as outras era insuportável, inclinou-se no parapeito da janela. Na redacção do jornal que se situava no 13.º andar, a azáfama era tanta que, só depois de uma hora e tal é algumas vozes se levantaram em protesto contra o vento gelado que até fazia voar os papéis.

Recolheu-se mas resmungou por entre dentes:

— Se não fosse ter comprado bilhete para os U2...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

CEGUEIRA

Das mãos habilidosas vai saindo um elefante longo
tricotado em linha âncora

as mãos sabem navegar

pelo desenho marcado com alfinetes

e fazem dois elefantes em dois lados reflexos

para pôr na janela

com a intenção de espantar o sol dos móveis



é quase por tacto que as mãos fazem e desfazem

pois os olhos já não acham mais imperfeições

nem mais erros nas medidas do universo



uma voz murmura — Que lindo é esse pássaro!

porque não percebe nada de elefantes