quinta-feira, 8 de outubro de 2015

MÚSICA ESCONDIDA

Miró


Hoje fiquei com um dedo amarelo
De pintar uma aranha presa ao coração da lua
Mas ainda falta muito para ter um grito que se veja
Que salte para fora dos olhos
E seja tiro canhão e espada
Se lance por violenta escarpa
Não tenho sopro para tanto mar
O branco move-se feito sal e escama
Tão longo é o vestido que rodopia
Até cair em pranto de mil lágrimas
De mil cores transparentes
Tão vazio é o corpo da bailarina






quarta-feira, 23 de setembro de 2015

GOMOS DE OUTONO

Cathleen Rehfeld



As laranjas encolhem na ponta do lápis
Puxo pelo elástico do nariz
Mas o espirro não me sai
Só uma gota de sumo azul fluorescente
E a pupila grossa
Anda de cá para lá
Horizontalmente
Porque tenho a bainha dos dedos caída
Tudo é tão verdade quanto energia
Quanto as minhas moléculas rotas
Arregaço as mangas para não chorar mais
As laranjas são ácidas porque são de mim
Um fruto roubado às tardes

Hoje tenho palavras leves e apetece-me maracujás


terça-feira, 25 de agosto de 2015

AMANHECER DE CREPÚSCULOS

 
Martí Moreno

Já não passo nessa estrada desde ontem
Hoje é o lugar mais distante que existe
Porque não existe
Nem tem que existir
E o amanhã é só uma véspera adiada
De um futuro esquecimento

Todos os rostos se perdem
Não há olhar que fixe o olhar

Só há um agora frente à frente

domingo, 16 de agosto de 2015

Há quanto tempo não tenho tempo?

sexta-feira, 31 de julho de 2015

DESTROÇOS DE LUZ

Paige Bradley


Anda cá poema, tenho de te agarrar
nem que seja a viva força
pelos cabelos ou pela língua,
tenho de te fazer falar
quero que digas tudo por mim
que me expliques o que não sei...

Vá lá, solta-te, não sejas esquivo,
dou-te papel e o meu ouvido
não te ponhas é com lamentos
para isso já me basto
preciso é de outras armas
de uma imagem bem afiada
própria para arremessar contra a luz
que me anda por aqui
dentro desta pedra destroçada.

Poema vem à deriva
quero-te afogar por inteiro
para que entres por um olho
e saias na porta furiosa do mar.

Não me dês tréguas nem compassos,
que o teu rumor não me deixe sufocar.



segunda-feira, 20 de julho de 2015

REGRESSO AOS DIAS SEM VOLTA


Gürbüz Doğan Ekşioğlu


Mais vale fazer contas à vida
Do que uma vida faz de conta

A partir do zero tudo é infinito

Já morri nos olhos de tanta gente
E mesmo assim continuo a sentir
O sabor doce das laranjas

Se pudesse só estar aqui

Como quem viaja por inteiro!