quarta-feira, 29 de setembro de 2010

HISTÓRIAS DE ENCANTAR

Era uma vez uma chávena de chá que tinha graves 
problemas de consciência, mas que mesmo assim 
gostava de se mostrar trasbordante de sabedoria. 
Até que um dia caiu no chão e partiu uma asa. 

Era uma vez uma caneta que se preparava para 
assumir a plenitude da sua idade, quando de repente 
ficou sem tinta. 

Era uma vez uma estrela polar que apesar da sua 
carência afectiva, se esforçava por permanecer 
no mais absoluto segredo profissional. 

Era uma vez uma linda bicicleta de montanha que 
sofria de graves problemas de coluna, até quando 
o percurso era a descer. Por isso não teve outra 
solução do que parar e dedicar-se à escrita. 

Era uma vez um rico relógio de prata que vivia num 
magnífico palácio onde exercia o honroso cargo de 
guia turístico. Até que um dia foi declarado relíquia 
arquitectónica e não conseguindo suportar tal desgosto, 
deu em beber mesmo sabendo que não era à prova de água. 

Era uma vez uma mesa rectangular que por falta 
de verbas, teve de optar por ficar calada, apesar 
da sua potencialidade para mesa redonda. 

Era uma vez um advogado de defesa que se partiu 
e não voltou a ser recuperado pois não valia a pena tal 
investimento, tanto mais num período de tão grande 
contenção económica. 

Era uma vez um girassol com cara de poucos amigos 
que costumava estar virado para a parede e só se 

mostrava em dias de grande solenidade ou 
quando não avistava nenhum turista por perto. 

Era uma vez uma linha recta que ficou interrompida 
temporariamente para beneficiação mas que apesar 
desse contratempo, continuou a sua árdua luta 
pelos direitos humanos. 

Era uma vez um número primo que recebeu 
uma condecoração pelos actos praticados 
em prol do progresso científico e tecnológico. 
Como grande filantropo que era, mostrava-se 
sempre de cabeça baixa em sinal de submissão. 

Era uma vez uma máquina de escrever 
que se avariou mesmo a tempo de evitar 
que fosse cometido um acto de desespero. 

Era uma vez uma tarde que ficou bloqueada 
numa compacta fila de trânsito e não chegou 
a tempo de assistir ao pôr do Sol. 

Era uma vez uma ideia que falhou 
devido a um corte de energia. 

Era uma vez uma lâmpada 
que se apagou por falta de amor. 

Era uma vez um salto olímpico 
que tinha por objectivo a felicidade. 

Era uma vez uma chávena sem asa 
que não sabia que fazer da sua vida. 

Era uma vez uma vida que ficou esquecida 
na prateleira porque não havia mais espaço 
para o seu coração. 

Era uma vez uma caixa completamente vazia 
e sem histórias para contar. 

Era uma vez um mundo que por falta de imaginação 
ficou redondo como um pássaro.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

TUDO A CINCO EUROS E ANTES QUE A POLÍCIA CHEGUE

Sobre a expulsão dos ciganos da França, tudo já foi dito com magistral lucidez no post do Funes. Apenas me atrevo a acrescentar uns pequeníssimos detalhes, pensamentos que me vão surgindo nos intervalos do meu bem dormir.

É um alívio viver num país tolerante como Portugal, deste território nacional nenhum cigano será mandado embora. O máximo que pode acontecer a essa gente é ser enxotada de junto da nossa vizinhança, aldeia, vila, cidade ou distrito. Se se mantiverem à légua, os ciganos são fixes. Até dão muito jeito para fazer com que as crianças comam a sopinha toda.

Além disso, a quem compraríamos a melhor roupa e sapatinhas de marca? São mesmo úteis quando moram debaixo da ponte e vendem tudo ao preço da chuva. Mas também, com o rendimento mínimo que recebem, têm o dever de nos prestar alguns favores, ou não?

Ah pois...