quinta-feira, 24 de junho de 2010

TELHADOS DE PAPEL

As coisas mais práticas quase nunca estão à mão

Nuvens, caminhos, ideias, caixas, árvores...

Sempre na última estante de cima

Ou num desvio entre o mar e a garganta


É difícil estar só

Porque a porta bate muito mais que o coração

E os olhos vivem numa correria enquanto dormem


Não há como segurar o vento

segunda-feira, 14 de junho de 2010

UM SOL PARA TRAZER NO BOLSO

Uma pessoa com paciência
Poderia construir um mar em miniatura

Teria apenas de gastar muitos fósforos


As conchinhas de mar

Só servem para outras filosofias


O abominável homem das neves

É todo feito de peugadas

E de testemunhos oculares


Por isso

Nada mais confortável para uma montanha

Do que crescer dentro duma garrafa

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A ÉTICA DAS MÁQUINAS DE CALCULAR

A leitura de Novalis deixa-me a cabeça fragmentada

É prático saltar por cima dos bancos e das mesas

E atirar o mundo para trás das costas

Como quem já se esqueceu de tudo

Ficando apenas com as dores musicais


Não vais

Ter outra oportunidade

Chegou a época das cerejas


O amor tem consequências singulares

E a guerra dos cem anos já matou a memoria


Mas as nozes e os poemas épicos

Provocam aftas nos ouvi
dos

Até houve um poeta romano chamado Ovídio