segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Luar de Agosto


Até na minha aldeola as portas e janelas têm de se manter trancadas em pleno dia e nem assim adianta, desconfia-se de quem não tem boa pinta, os cães bem se fartam de ladrar, mas os alarmes adiantam pouco quando são activados por nada, só ficam a fazer barulho durante muito tempo. Nem a Igreja escapa aos sinais dos tempos, fechada a sete chaves, lá está, virada para o vale do campo, é o sitio mais sossegado para ver o mergulhar do sol, embora suspeite que também seja um canto recatado para outros desesperos, quem sabe, agora já não há o conhecimento familiar até à quinta geração, já não há a cumplicidade dos vizinhos. Se alguém bate à porta é preciso todo o cuidado e só depois é que se recebe de regaço para regaço os primeiros cachos, os figos pingo de mel, tudo, numa troca recíproca de pessoas que sempre foram umas das outras, Amélia do Pereiro, Manuel do Gama, Quitas do Boiça. As noites deste Verão estão demasiado frias, ainda nem apeteceu ficar à janela e durmo porque está muito bom para dormir.

3 comentários:

saphou disse...

Eu já nem durmo, é mesmo só insónias.

Privada, o bacoco disse...

Ora, ora Mofina agora tens medo? Mesmo na tua aldeia? Ai que na minha alguem se atrevesse a roubar, faziamos logo um ajuntamento, com maratona e paus, e no fim assavamos um cabrito, ao som da concertina e do acordeão.
Vá Mofina levanta-te faz favor, estás a perder horas, horas pá, k nao vais recuperar. Oupa

Graça Pires disse...

Que saudades daquele tempo em que as noites de verão eram mornas e as portadas das casas estavam abertas mesmo para quem vinha sem aviso... Um texto muito bom. Beijos.