segunda-feira, 27 de abril de 2009

EVIDÊNCIA

Uma máquina de lavar roupa é mais útil do que um poema.
Aliás, tudo é mais útil do que um poema.
Por exemplo, uma faca serve para cortar o pão,
um poema nem serve para cobrir o coração.

Além do gesto, não devia existir
outro tipo de comunicação.
Os peixes têm mais profundidade
do que a alma cansada dum poeta.

Os poetas são pesados,
têm mãos e lábios de morte.
Os poetas são achatados
como as mesas e os livros.

Devíamos ter ficado pela descoberta das pedras,
pelo cheiro húmido e geométrico da terra...
Mas passámos além do erro
e assim chegamos à angústia.

Os poetas deviam estar
debaixo duma malga, como os pirilampos.

Um poema é sempre uma coisa metálica,
é uma exclamação aguda e insuficiente,
uma maneira de transgredir e confrontar...

Um poeta é como um jogador
que atira a sua fala, até à raiz da dor.

Um poema é sempre inútil,
mas por ser inútil, é que é poema...


P.S.: O Funes é que tem razão.

7 comentários:

mac disse...

Eu não acho o poema inútil;
A poesia é o suor do espírito
E o suor é muito útil.
Lá porque entrou na caneta
Não se torna coisa fútil.

Não é só belo, um cometa.

Blimunda disse...

Para que precisamos nós de utilidades quando a vida é inútil do princípio ao fim? Que venham as inutilidades!

jg disse...

Tarda nada, tens uma manif à porta.
Basta que as máquinas de lavar louça leiam esta postagem.

Devias ter dito que a poesia alem de queimar o cérebro a quem a produz, queima pestanas a quem a lê e desvasta hectares de eucaliptais das nossas florestas, para gerar peso morto nas nossas prateleiras.

jg disse...

Não compreendo. Fazes postagens de treta e rendem-te carradas de comentários, fazes uma postagem de jeito e niguém te liga...

Tal como noutros meios de comunicação, o pessoal quer é sangue, sexo, e futebol.

mac disse...

jg, faça um estudo sobre artigos publicados e respectivos comentários... Pode ser em 4 ou 5 blogs apenas. Verá que existe de facto uma certa relação mas não é com sangue, sexo, ou futebol.
Mofina, é mesmo uma evidência. Voltei aqui de propósito para reler.

teresa g. disse...

Picou-te foi o bicho da preguiça. Só te desculpo porque tb ando morta por preguiçar.

Portanto vivam as inutilidades.

Irene Ermida disse...

belo jogo de sentidos!!!