segunda-feira, 20 de maio de 2024

IDIOMAS CLANDESTINOS


Não ouço o que pensa a minha cabeça

Tenho uma surdez afinada pelo toque dos dedos

E toco no escuro pendurada pelas patas 

Como os morcegos e as cabras cegas 

Lanço ecos que se repercutem

Lá para o fundo dos meus olhos apagados


Os mosquitos por cordas devolvem-me algum sangue

Um RH de uma linhagem mais azul do que positivo

Sei que só os barcos têm lastro suficiente

Para não tombarem dentro do peito dos céus


Se um sol em contramão 

Abalroar a proa alta da minha renúncia

Outra serei eu, a que só se ouve por dentro

Sem atlas  

Sem corpo

Sem artilharia pensada


Mato o peso ocioso das palavras 

Queimo-as em labaredas altas

Em linhas de fogo e atrevimento