É natural, as nossas crianças, habituadinhas a tudo, têm quase sempre mais olhos que barriga e a palavra desperdiço, porque foi pintada com as cores dos ecopontos, é uma noção que lhes passa ao lado. Desde que se escolham os contentores próprios, tudo aquilo que não se quer pode ser posto fora.
Os centros comerciais podem ser óptimos lugares de observação para se apanhar os pequenos e grandes flagrantes dos tempos actuais. As papeleiras deixaram de estar cheias de cinza e pontas de cigarros para estarem a abarrotar de todo o género de alimentos, devorados pela metade e cuspidos por inteiros.
Mas em vésperas de Natal, fui tocada por uma cena que me salvou e me valerá para o futuro próximo. Mãe e filha sentam-se com os gelados mais pequenos que havia à venda e comem devagar, colher a colher, num silêncio de sorrisos tristes. A mulher, meio ausente, tem um ar abatido pelo peso sabe-se lá de que solidão e de que vidas. A menina, linda como uma bonequinha, come até à altura em que diz baixinho que não quer mais. É então que, de uma voz muito calma, recebe a lição de que as coisas custam dinheirinho. A criança, acena com a cabeça, como que a pedir desculpa e engole tudo com resignação e evidente esforço.
Era uma menina tão pequena, não teria ainda 3 anos. E já com o mundo às costas!
Os centros comerciais podem ser óptimos lugares de observação para se apanhar os pequenos e grandes flagrantes dos tempos actuais. As papeleiras deixaram de estar cheias de cinza e pontas de cigarros para estarem a abarrotar de todo o género de alimentos, devorados pela metade e cuspidos por inteiros.
Mas em vésperas de Natal, fui tocada por uma cena que me salvou e me valerá para o futuro próximo. Mãe e filha sentam-se com os gelados mais pequenos que havia à venda e comem devagar, colher a colher, num silêncio de sorrisos tristes. A mulher, meio ausente, tem um ar abatido pelo peso sabe-se lá de que solidão e de que vidas. A menina, linda como uma bonequinha, come até à altura em que diz baixinho que não quer mais. É então que, de uma voz muito calma, recebe a lição de que as coisas custam dinheirinho. A criança, acena com a cabeça, como que a pedir desculpa e engole tudo com resignação e evidente esforço.
Era uma menina tão pequena, não teria ainda 3 anos. E já com o mundo às costas!
19 comentários:
de pequanino se torne o pepino é bem certo
Não gosto disto. Se calhar não lhe deviam ter dado o gelado, mesmo dos mais baratos, porque há coisas que não têm preço e quando a gente pensa que as compra está a matar algo luminoso e isso é muito, muito mau.
Porque se aquilo que deveria ser um prazer mágico afinal é uma obrigação porque custa dinheirinho, onde foi parar a magia?
Sabem, a magia é um bem essencial. Não tem preço, não tem mesmo.
Pelo contrário, está a fortalecer os ombros. Aprender que o mundo tem limites é uma das formas de aprender a ser feliz.
Na realidade todos nós carregamos o mundo às costas, e nem temos consciência disso. E quando ele nos cai em cima, porque um dia tem que cair, é um ai jesus. E quase invariavelmente culpam-se os outros.
Mac, talvez aprender que esse prazer não é uma coisa a desperdiçar faça parte da magia das coisas (?) Afinal as coisas vulgares e desperdiçáveis acabam por não ter magia nenhuma. E as coisas que vemos os outros ter mas nunca nos oferecem porque é caro também não têm magia nenhuma...
A miúda estava, na véspera de Natal, numa viagem mágica com a mãe! Um prazer que se tem por obrigação deixa de ser um prazer. Então chame-se a isso a obrigação que é, e não se faça de conta que é um pequeno milagre...
Jardineira, continuo a achar que seria bem melhor ter comprado apenas um gelado para partilhar entre as duas; saía mais barato e não estragava o sonho da menina. Era muito melhor ter ficado a desejar mais um pouco do que comer com sacrifício o que sobra, porque foi pago no vil metal...
Batatas, ela tem muito tempo - espero! - para aprender que a vida dói e que nem sempre temos o que desejamos. O ensino da sobrevivência não deve matar os mundos imaginados, pois são eles que transportam a esperança.
Mofina, peço desculpa por esta discordância tão insistente;mas dói-me quando vejo matar o sonho aos meninos porque o mundo é mau e é preciso habituar os miúdos... Na realidade, elas habituam-se de qualquer maneira mas se matarmos a magia às crianças, o mundo fica muito pior. Para nós, para eles e para os meninos deles.
Mac a discordância não é nada de mal, o que é mal é a forma desagradável e intolerante como por vezes as pessoas a manifestam, o que não é o seu caso, e também espero que não seja o meu! :)
Agora ocorreu-me que nós ambas estamos a transportar as nossas dores para este episódio sem sequer o ter presenciado, e não estando certamente dentro da relação entre aquelas duas.
É que a mim dói-me que não sejam mostrados às crianças os limites, que existem, e que graças a isso elas se tornem em pequenos tiranos que se acham no direito de todo o mundo. Quando a única coisa, na minha perspectiva, que não deve ter limites é o afecto que se lhes dá.
Eu não tenho filhos, por isso, como sempre me dizem os meus amigos que os têm, é fácil para mim falar. Talvez seja. Mas já presenciei cenas em que a criança não quer comer ao almoço e daí a pouco está a pedir um gelado. Os pais compram, ela dá umas labedelas e não quer mais. O gelado é deitado fora, mas daí a pouco tempo a criança quer outra guloseima... não sei, acho que dar afecto também é saber impôr regras, e isso dá-lhes segurança. E uma das regras preciosas é que as coisas têm preço porque têm valor, e mais importante que o preço é o valor das coisas que são finitas. O mundo não é uma reserva ilimitada de recursos.
Enfim, manias de ecologista :) Por falar nisso, que tal a magia de correr atrás das borboletas num jardim público, sem medo de sujar a preciosa roupa de marca, e sem medo de arranhar os joelhos num chão cheio de nojentas bactérias?
(Não fique chateada comigo, são provocações de ecologista chata ;) )
Jardineira, decididamente não é o seu caso. Eu também não tenho nada contra a discordância civilizada, antes pelo contrário; mas às vezes deixo-me levar e isso pode ser desagradável ao promotor da ocasião...
Acho que ter filhos ou não não é fundamental (eu tenho e já crescido mas pensava da mesma forma antes de ter), e acho importante ensinar limites, acho importante dar a conhecer o preço das coisas e ensinar que as escolhas têm consequências. Irritam-me sobremaneira os putos que não jantam mas 10 minutos depois "estão cheio de fome". De gulodices, claro, mas nada que bom prato de sopa não cure.
Mas também acho muito importante nutrir o sonho, a fantasia e percepção que há coisas que não são adquiridas nem com dinheiro nem com outra coisa qualquer, são assim uma coisa que não merecemos nem desmerecemos, uma magia que acontece. E acho que estas noções são cada vez mais desprezadas, a bem de um materialismo execrável. Actualmente só mesmo os pais o fazem e muitas vezes sob forte desacordo social.
Já agora, roupa de marca só quando a puder pagar ele próprio. Até lá, são jeans e camisolas de supermercado, ouvi dizer que são óptimas para as bactérias e as borboletas, as bicicletas e a minha bolsa gostam imenso.
Bem, a Mofina já está habituada a que eu lhe invada a caixa de comentários e nunca me correu à vassourada. Portanto acho que não o ia fazer agora connosco!
Acho que estamos de acordo em relação à magia, é mesmo só a diferença entre um gelado e uma borboleta ;) Teríamos que perguntar à miúda qual preferia. Se ela crescer como eu cresci, rodeada de borboletas, mas com pouco acesso aos gelados, se calhar ía-me deixar mal...
:) Ou se calhar não... Porque numa coisa dou-lhe toda a razão: nós ambas estamos a transportar as nossas dores para este episódio, do qual pouco ou nada sabemos, além das interpretações de um olhar estrangeiro.
Mofina, para a próxima pode por favor perguntar à catraia se prefere uma borboleta azul mágico ao gelado de baunilha?!? É que assim não há condiçãos para uma conversa de véspera de fim-de-ano, francamente.
Este post é tão profundo que ainda fiquei mais triste, se isso é possível. Não há um cantinho mágico para nos protegermos do que aí vem e do que já está instalado?
Saphou, wonderful! Qual tristeza qual quê, está a ver mal a coisa!!! Por aqui é só borboletas mágicas, gelados de baunilha, amor e sonhos fabulosos!
Junte-se a nós neste hino à esperança, vá lá, faz-nos falta!
:) Mac não gosto muito de interromper o trabalho para vir aos blogs, mas apeteceu-me tanto pedir-lhe emprestado um bocadinho desse optimismo! Prometo que deixo também para a Saphou...
Amigas, se episódio vos comove, imaginem o que senti estando eu a menos de um metro de distância. Que vontade de intervir a favor das duas, da mãe e da filha. Mas felizmente a magia acontece nos momentos mais inesperados e posso dizer que as vi caminhar de mãos dadas, cobertas de borboletas!
:P Tb quero uns gramas de optimismo, mas que seja real...
O mundo tem muta gente. Dessa gente, há uns felizes e outros infelizes; há malta desesperada e malta cheia de esperança; há gente que ri e gente que chora.
Escolhi ser feliz, cheia de esperança e rir sempre, no matter what. É um assunto demasiado importante para não ser alvo de uma escolha determinada, não acham? Ás vezes é difícil mas vale a pena. E com a prática torna-se mais fácil...
Há nuvens, palletes de borboletas mágicas. São muito mais bonitas que as moscas que também andam por todo o lado.
Haverá sempre moscas mas haverá também sempre borboletas a comer gelados de baunilha, de mãos dadas com as mães, na véspera da Natal...
Desejo-vos um óptimo 2009!
Quem me conhece um pouco sabe que sou uma miúda tonta, que quase nada sei da realidade, que só posso levar a vida brincar.
Acho que alegria (alegria mesmo] é que me escolheu, mais do que eu a ela!
Qdo pedi uns gramas de optimismo foi mesmo para acordar as borboletas que andam no ar...
Um presente para vocês, que dão vida às borboletas mágicas.
Tchim tchim Mac! Ao novo ano, às borboletas máginas, às crianças labuzadas de gelados de baunilha e chocolate! E um grande chuto no pessimismo para os próximos tempos, e nos diabinhos que nos fazem os dias maus!
Valeu meninas?!
Obrigada pelas borboletas célticas.
Máginas não, mágicas!
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