Era uma vez uma chávena de chá que tinha graves
problemas de consciência, mas que mesmo assim
gostava de se mostrar trasbordante de sabedoria.
Até que um dia caiu no chão e partiu uma asa.
Era uma vez uma caneta que se preparava para
assumir a plenitude da sua idade, quando de repente
ficou sem tinta.
Era uma vez uma estrela polar que apesar da sua
carência afectiva, se esforçava por permanecer
no mais absoluto segredo profissional.
Era uma vez uma linda bicicleta de montanha que
sofria de graves problemas de coluna, até quando
o percurso era a descer. Por isso não teve outra
solução do que parar e dedicar-se à escrita.
Era uma vez um rico relógio de prata que vivia num
magnífico palácio onde exercia o honroso cargo de
guia turístico. Até que um dia foi declarado relíquia
arquitectónica e não conseguindo suportar tal desgosto,
deu em beber mesmo sabendo que não era à prova de água.
Era uma vez uma mesa rectangular que por falta
de verbas, teve de optar por ficar calada, apesar
da sua potencialidade para mesa redonda.
Era uma vez um advogado de defesa que se partiu
e não voltou a ser recuperado pois não valia a pena tal
investimento, tanto mais num período de tão grande
contenção económica.
Era uma vez um girassol com cara de poucos amigos
que costumava estar virado para a parede e só se
mostrava em dias de grande solenidade ou
quando não avistava nenhum turista por perto.
Era uma vez uma linha recta que ficou interrompida
temporariamente para beneficiação mas que apesar
desse contratempo, continuou a sua árdua luta
pelos direitos humanos.
Era uma vez um número primo que recebeu
uma condecoração pelos actos praticados
em prol do progresso científico e tecnológico.
Como grande filantropo que era, mostrava-se
sempre de cabeça baixa em sinal de submissão.
Era uma vez uma máquina de escrever
que se avariou mesmo a tempo de evitar
que fosse cometido um acto de desespero.
Era uma vez uma tarde que ficou bloqueada
numa compacta fila de trânsito e não chegou
a tempo de assistir ao pôr do Sol.
Era uma vez uma ideia que falhou
devido a um corte de energia.
Era uma vez uma lâmpada
que se apagou por falta de amor.
Era uma vez um salto olímpico
que tinha por objectivo a felicidade.
Era uma vez uma chávena sem asa
que não sabia que fazer da sua vida.
Era uma vez uma vida que ficou esquecida
na prateleira porque não havia mais espaço
para o seu coração.
Era uma vez uma caixa completamente vazia
e sem histórias para contar.
Era uma vez um mundo que por falta de imaginação
ficou redondo como um pássaro.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
HISTÓRIAS DE ENCANTAR

quarta-feira, 22 de setembro de 2010
TUDO A CINCO EUROS E ANTES QUE A POLÍCIA CHEGUE
Sobre a expulsão dos ciganos da França, tudo já foi dito com magistral lucidez no post do Funes. Apenas me atrevo a acrescentar uns pequeníssimos detalhes, pensamentos que me vão surgindo nos intervalos do meu bem dormir.
É um alívio viver num país tolerante como Portugal, deste território nacional nenhum cigano será mandado embora. O máximo que pode acontecer a essa gente é ser enxotada de junto da nossa vizinhança, aldeia, vila, cidade ou distrito. Se se mantiverem à légua, os ciganos são fixes. Até dão muito jeito para fazer com que as crianças comam a sopinha toda.
Além disso, a quem compraríamos a melhor roupa e sapatinhas de marca? São mesmo úteis quando moram debaixo da ponte e vendem tudo ao preço da chuva. Mas também, com o rendimento mínimo que recebem, têm o dever de nos prestar alguns favores, ou não?
Ah pois...

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