sábado, 11 de junho de 2011

DESCONFORTO


aos sábados as janelas põem a língua de fora
mostrando ao sol as amígdalas vermelhas dos tapetes
que espirram muito por causa da alergia ao pó

aos sábados as flores são estranguladas
enquanto se muda a água do relógio
e se dá corda ao tédio
porque é dia de arejar as palavras
de abrir as cortinas do sono mais pesado

mudar as sombras e fazer as camas de lavado
perfumar a roupa mais habitável
não esquecer os peixes e os copos de vidro
a fruta morta no cesto amargo
sem teias escondidas nos cantos do mundo
as almofadas viradas do avesso
a consciência cheia de sumaúma

mas
com as cadeiras fora das suas posições
e todos os sítios fora de sítio
já não há lugar para poisas os olhos

3 comentários:

choco disse...

em último caso
poisam-se os olhos na memória
no relógio do tempo atrás
no lugar que foi
em último caso

teresa g. disse...

Tal e qual os gatos :P

vieira calado disse...

O poema tem sequências muito interessantes.
Saudações poéticas