sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

MÚSICA SALGADA


Pela boca morrem os poetas.
Autofágicos de si,
Engolem-se com um impulso asfixiado de nicotina,
Ferem-se com as escamas das próprias palavras.

E as palavras caem, uma a uma,
Gota a gota, na página agonizante do tempo.

Ai poetas, poetas...
Que na pele seca dos vossos corações
Seja rasgado o sopro de uma harpa
Que, rugindo alto, nas goelas do vento,
Passe por entre as rochas mais ásperas,
Mais pesadas de labirínticas tatuagens...

Mas seja aí, nessa pétrea nudez
Que as azáleas mais etéreas se libertem.

Que nada vos impeça nem do sangue nem da fala,
Respirem fundo até depurar completamente
O vício afiado dos vossos olhos taciturnos
Que de tanto vaguear, perdem o mapa secreto das ruas.

Pela loucura se substanciam os poetas.
Autóctones de si,
Procuram-se por dentro,
Afogando-se no tumulto torácico
Em que um diafragma de guelras se agita
Num bater de ondas e de pensar.


1 comentário:

* hemisfério norte disse...

pela boca morrem os amantes, quando os beijos escasseiam