domingo, 30 de outubro de 2016

ESCADAS ROLANTES

 Maria Manuel Rocha


Fórum Aveiro


De andar para andar
Há pessoas que crescem do chão
Enquanto outras se apagam

Uma mulher, por exemplo, começa a nascer pela cabeça
E lentamente vai ficando inteira
Até à pontinha da sandália Pablo Fuster

Que estranha arquitectura esta
A dos pés rotos nos calcanhares

Um homem, esse, perde metade das pernas
Depois perde os músculos da caixa torácica
Que sobressaem bem atléticos na t-shirt Hugo Boss
E por último são os óculos de mergulhador que se afundam

Há janelas suspensas entre dois olhares
E um frenético movimento de avestruzes

Um sorriso multi-uso elabora o seu desconto
Ganhando um brinde com sabor a Mon Chéri

Não há regras para o infinito
Num elevador -2
A solidão já não combina com nada
Nem com ganga nem com seda
Oh triste café mexido com pauzinho de canela

O Sol é a moeda de troca mais falsa
Que os deuses inventaram

Agora o jardim das oliveiras é no último andar




Publicado na revista Folhas – Letras & Outros, 2001

2 comentários:

teresa g. disse...

Tens alguma coisa contra o Mon-cheri? :P

Anónimo disse...

poemísses de marca ;)

a.