terça-feira, 27 de março de 2007

Claras em castelo

No Auto de Mofina Mendes, de Gil Vicente, há esta passagem que me ficou, desde criança, como uma canção de embalar...

«Vou-me à feira de Trancoso logo, nome de Jesu, e farei dinheiro grosso.
Do que êste azeite render comprarei ovos de pata, que é a coisa mais barata que eu de lá posso trazer;
e êstes ovos chocarão;
cada ovo dará um pato, e cada pato um tostão, que passará de um milhão e meio, a vender barato.
Casarei rica e honrada por êstes ovos de pata, e o dia que fôr casada sairei ataviada com um brial de escarlata, e diante o desposado, que me estará namorando:
virei de dentro bailando assim dest'arte bailado, esta cantiga cantando.»

De facto, no viver de cada dia, existe a irresistível tentação de ir fazendo projectos no ar! Se esta tendência não for contrariada, corre-se o risco de o futuro ficar sem alicerces e ruir.

2 comentários:

Magri disse...

Então cara Mofina, a criticares a tua homónima?
Ou é só para abrir a discussão sobre ser sonhador ou ser realista?
Eu, como de costume, acho que "in medio virtus": Sonhar é preciso, é bom para os maus fígados, mesmo que os sonhos não se realizem tal como se esperava. Ter os pés na terra também dá jeito, mas sempre com um bom par de asas para levantar voo.

Beijos.

jg disse...

Diz isso ao Sócrates...