segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NINGUÉM VIVE DE POEMAS

ninguém escreve palavras aos litros
ninguém espirra sonhos pelo nariz

ninguém mata a sede com veneno

ninguém mata o tempo pela raiz

ninguém corta o rio com uma tesoura

ninguém encolhe a sombra do chão

ninguém cobre a cabeça com folhas de alface

ninguém agasalha os pés com teoremas

ninguém enfeita os olhos com canela

ninguém mexe o coração com colher de chã

ninguém suspeita da imparcialidade das moscas

ninguém limpa as suas culpas com algodão

ninguém desiste de sua sede nem da sua fome

ninguém atrasa o tempo com um pontapé

ninguém adianta as ideias por acontecer

ninguém vive sem rosto

ninguém morre sem deixar rasto

ninguém luta contra os seus próprios braços

ninguém começa a crescer pelos sapatos

ninguém se enche de ternura abrindo uma torneira

ninguém apaga o Sol com um sopro

ninguém fecha os olhos para deixar de pensar

ninguém pensa para perder quilos

ninguém escreve para evitar a diabetes

ninguém grita para fazer flores molhadas

ninguém bebe água para se tornar transparente

ninguém cala as suas artérias mais quentes

ninguém fica preso fora do seu corpo

ninguém adormece antes de adormecer

ninguém se liberta das suas próprias asas

ninguém cai do azul dos seus sonhos

ninguém sonha sem rede

9 comentários:

* hemisfério norte disse...

ninguem fica in diferente ao ler-te

bjs
a.

Blimunda disse...

ninguém te sabe como eu te sei

saphou disse...

Belo, pelo inesperado, pelos sons, pelo ritmo, pela imaginação. Fascinante.
Mas às vezes acho que podemos ficar fechadas fora do nosso corpo.

saphou disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
saphou disse...

ninguém vê por trás do Sol posto
ninguém se enforca sem pescoço
ninguém nú usa a fusca no bolso
(já vou descambar)

saphou disse...

Mofina, não deixes estragar as beringelas e os morangos. Estão acabadinhos de amadurecer.

mac disse...

Tanta frase com que concordo,
E nelas embarco, rédea solta,
Quantas aquelas de que discordo
E me zango, com revolta.

Parabéns, cara mia.

vieira calado disse...

"...e ninguém é de ninguém."

segunda a canção brasileira.

Beijinho

Anónimo disse...

principal exemplars annexure suitably seattle level dcita tweet display tamas communities
semelokertes marchimundui