quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O ZERO INFINITO

Os dias todos alinhados, em ar de marcha
Porque é preciso despachar os poemas num instantes

Antes que eles murchem e se partam pelas asas.


É preciso empurrar os olhos para a frente

Em direcção aos filhos que estão por abrir,

Para que eles atravessem de novo as pontes

Que estão agora a ruir pelo peso do nosso sono.


E as palavras todas a pingar pelas paredes abaixo

Como se fossem chuva disparada por canhões de guerra

Que não se podem render diante de um silêncio obrigatório.


É difícil abrir passagem por entre os pensamentos apertados,

Há instantes em que nem uma clave de sol

É capaz de entrar no buraco da partitura.


Ninguém pára porque os olhos estão sempre verdes

E os cruzamentos são lugares de velocidade máxima

Com as árvores e as girafas todas em contramão,

Os cruzamentos são esquinas redondas

Onde os polícias e os larápios atacam ao pôr-do-sol

Vestidos com as mesmas fardas e os mesmos apitos.


Já há não como distinguir as palavras umas das outras,

Todas as batalhas são geometricamente iguais,

Com as mesmas medidas e as mesmas sílabas tónicas.


Custa a acreditar, mas ninguém sabe a idade do tempo

E ainda que se façam múltiplas equações

Não se há-de encontrar o comprimento do futuro que falta

Porque tudo é eterno como a numeração romana.

2 comentários:

Blimunda disse...

...à esquerda.

privada disse...

adorei! Bué de urbano e actual, adorei!

"E as palavras todas a pingar pelas paredes abaixo,Como se fossem chuva disparada por canhões de guerra"

Grafitis?
Adorei
e as arvores e as girafas em contra mão, ei Mofina ta demais