segunda-feira, 29 de agosto de 2022

UM POEMA VAZIO


As pessoas vão e vêm pelas ruas

e a cidade está vazia

As janelas estão abertas

mas as pessoas sentem-se vazias

As árvores estão em flor

mas os pássaros vazios

não sabem onde bater suas asas

porque o céu é um vidro fechado

às rédeas altas do sonho


Ninguém sabe que as ruas estão vazias

porque todas as pessoas

têm os olhos vazios de tanto falar

e ninguém fala porque é feio 

falar com a boca cheia de palavras vazias


As pessoas dizem que não cabem na roupa

mas os braços caem das mangas

como navios à beira de um mar vazio

As mangas dão muito pano para o desespero

e o desespero deixa a boca vazia e amarga

como um mar caindo dos braços


As mães levam os filhos ao colo

e falam-lhes de um futuro vazio

Apesar disso

o futuro pesa nos olhos dos filhos

como uma ansiedade viva

que não se pode esquecer nem matar


A esperança enche as ruas desta cidade vazia

e as pessoas vão e vêm

enquanto aguardam o verde

ou o vermelho do destino

e ficam mudas de tanto esperar


1 comentário:

Jaime Portela disse...

Com tanto vazio resta a esperança.
Que é um sentimento de impotência face à calamidade.
Excelente poema, gostei muito.
Boa semana, amiga Regina.
Beijo.