quarta-feira, 7 de setembro de 2022

NATUREZA MORTA

Uma maçã desafia outra: Vamos cair?

A outra responde que ainda está verde

Para esse tipo de aventuras.

Ah, que sorte nascer vermelha...

Melhor é nascer rente ao chão, responde.

Não, melhor é não ser morta pelas mãos.

A terra é suave,

E espera sempre pelos dias mais maduros,

Espera pelas melhores palavras.

A terra é sempre. Todos os dias há dias.

Todas as maçãs são feitas de terra doce.

Todas as maçãs são brancas como as palavras.

Todas as palavras têm sementes por dentro.

As palavras não caem sem estarem maduras.

As palavras crescem vermelhas,

Melhor, nascem rentes ao coração.

Todas as crianças gostam de roubar maçãs.

Todas as pessoas gostam de morder maçãs.

Todas as cidades têm árvores e avenidas.

A terra é sempre. Todos os dias há crianças.

Ninguém nasce sem a sua própria sombra.

Nenhuma sombra poisa no chão sem estar madura.

Nenhuma sombra descansa à sombra.

Nenhuma palavra se pode cortar em duas metades.

As avenidas já estão preparadas

Para qualquer tipo de aventuras.

As pessoas não estão preparadas

Para nenhum tipo de palavras.

As pessoas compram quilos de maçãs verdes.

As mãos não tocam na terra. Preferem as facas

Para descascar a pele das palavras.

As mãos não caem de felicidade.

A felicidade não cai de madura.

A terra é sempre. Todos os dias há milagres.     

E mãos para os fazer.

Nenhuma palavra descansa.

Nenhuma sombra se pode guardar nas mãos.

Nenhuma cidade cai do céu.


Adormeço e uma maçã cai-me no regaço. 


6 comentários:

Jaime Portela disse...

Este poema é soberbo.
E maduro para cair redondo no encanto do leitor.
Bravo, os meus aplausos para tanto talento.
Continuação de boa semana, amiga Regina.
Beijo.

Graça Pires disse...

"A terra é sempre". É o nosso chão, o nosso sustento, o nosso destino.
Belíssimo diálogo entre duas maçãs, para dizer tanto sobre a terra. Gostei imenso.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.

Anónimo disse...

as maçãs caem porque são livres, já as cidades.....essas têm rede de protecção
a.

Juvenal Nunes disse...

Gostei do poema, caído da imaginação fértil da poeta.
Abraço amigo.
Juvenal Nunes

Jaime Portela disse...

Já comentei, mas não vejo o que escrevi na altura.
Deve estar no spam do blog.
Em qualquer caso este seu poema é notável.
Os meus aplausos para o seu enorme talento para a poesia.
Continuação de boa semana, amiga Regina.
Beijo.

Jaime Portela disse...

Já sei i seu poema de cor e salteado... eheheh...
Mas gostei de reler.
Boa semana, amiga Regina.
Beijo.