sábado, 22 de outubro de 2022

AO ENCONTRO DO NADA

Cada vez mais distante do meu próximo,

incapaz para a vida prática

e lenta na aquisição de ideias eficazes,

aqui estou, em abstractas miragens

sem saber o que é o mundo…

cega para tudo quanto é real

e confusa até nas coisas mais óbvias.


Do meu próximo que posso eu saber

se nada sei de mim,

que humanidade é esta que começa pelo fim?


Ao meu lado, uma cadeira,

como a distinguir do meu próximo?


Pensar, é não encontrar coisa nenhuma

em coisa nenhuma.


Qual a coisa que o meu próximo vê

quando julga que me vê?

Não serei apenas uma imagem daquilo que ele quer,

não serei a que se escolhe por engano

mas que coincide com a que é?


De que sou, sou…

e se sou, assim também o meu próximo.

Mas o meu próximo não está comigo

como está a sua evidência.

Como amar uma evidência?

Como se consegue conquistar

para as nossas causas mais bravas?


Nossas?…

As minhas e as de mais ninguém!


Que no mundo só existo eu

e cada um à sua maneira.


6 comentários:

Jaime Portela disse...

Este poema é soberbo.
Fez-me lembrar Fernando Pessoa.
Boa semana, amiga Regina.
Um beijo.

Graça Pires disse...

Há alturas assim em que sentimos que estamos sozinhos no mundo. Por incapacidade de ver os outros ou porque eles se misturam com o nada que somos? Um poema forte.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.

Jaime Portela disse...

Gostei de reler este excelente poema.
Boa semana e bom feriado, amiga Regina.
Um beijo.

brancas nuvens negras disse...

Apreciei este seu poema e a temática, que é uma interpelação a nós próprios, sobre o que somos nós e o que são os outros.
Voltarei.
Um abraço.

Jaime Portela disse...

Passei para ver as novidades.
Aproveito para lhe desejar a continuação de uma boa semana, amiga Regina.
Um beijo.

* hemisfério norte disse...

Bom, vou telefonar para aí. Isso é excesso de muitos espelhos no quarto
a.