Um amigo meu, com o coração na ponta da língua, comenta, de uma forma quase distraída: — A minha mãe sente-se meio manca, por isso, também vai a pé para Fátima. Quando regressa, vem mil vezes pior. Mas ela é que sabe. É isso, as pessoas que vão a Fátima a pé, é que sabem. São livres de terem uma fé ou uma vontade. Os sacrifícios que praticam dentro do Santuário, é lá com elas. Ninguém tem nada com o assunto.Porém, há uns anos atrás assisti a uma cena que, essa sim, me indignou e tirou do sério. Na Capela das Aparições há um corredor, em redor da imagem da Virgem Maria, onde se cumprem as tais promessas de joelhos. Nada de especial a assinalar. Mas eis que chega uma mulher com um garoto que não teria mais de 8 ou 10 anos. Ajoelha-se e puxa-o para ele fazer o mesmo. E ali começam a andar às voltas. Ao princípio, o garoto deve ter encarado aquilo como uma brincadeira, correndo tanto, que a mulher repreendeu-o para ela abrandar. Só que depois, quando o seu corpo pequeno e frágil, começou a doer, foi obrigado a continuar. A cada tentativa de desistência, um valente safanão.Escusado será que fugi a toda a pressa dali para fora.A mulher não podia de forma alguma ser mãe do miúdo. Nenhuma mãe deseja ou pede o sofrimento dos seus filhos.
7 comentários:
O nosso povo tem uma relação estranha com a espiritualidade e Fátima é um exemplo quase perfeito disso.
Não respondeste à minha pergunta!
Eu queria uma resposta :P
Mas agora só volto depois do fds.
Beijos, bom fim de semana!
Fátima é muito mais que a fé das pessoas e é pena é que as pessoas não consigam fazer essa distinção.
infelizmente eu acho que o defeito é do próprio português, um povo habituado a ler pouco, a ser pouco sábio e a praticar cada vez menos o pouco que sabe.
na situação em si, não consigo separar a tua frase da tua propria realidade... e realmente nenhum pai, nenhuma mãe, no verdadeiro sentido da palavra quer ver ou sacrifica o próprio filho.
bjinhuxxx
Realmente o povo tem uma estranha religiosidade, mas não é só culpa desse povo, até pela pouca cultura que tem, sem ser também culpado disso.
Quanto a mim, a Igreja Católica devia explicar melhor e com mais insistência o que é essencial e o que é acessório.
Relativamente a Fátima, parece que o essencial é o sofrimento pelo sofrimento... e a Igreja não diz nada.
É natural que aquela mãe quisesse habituar o filho ao sofrimento, uma vez que devia estar convencida ser esse o caminho mais importante. Alguém responsável lhe terá dito que não era?
Do mesmo modo, nas Filipinas, muitas pessoas se fazem crucificar todos os anos na 6ª-feira santa, e a Igreja aceita isso como normal.
Será que foi essa a mensagem de Cristo?
Beijinhos.
Também concordo contigo, Mofina. Não consigo conceber a ideia de uma Mãe (maiúscula) a fazer sofrer um filho, certamente para "pagar" outro sofrimento que anteriormente tiveram de enfrentar.
A fé não tem limites? Penso que não deve ter. Mas esses actos não são, na minha opinião, mensuráveis pela fé que a pessoa tem.
Em momentos de desespero, acredito que as pessoas devem lembrar-se dos maiores sacrifícios. Mas daí até "castigar" segundas ou terceiras pessoas... isso ultrapassa o limite do ser razoável. Acho até que já toca a estupidez, talvez com um bocadinho de sadismo à mistura.
Cada um deve ter a liberdade de manifestar a sua fé... desde que não interfira com a liberdade que os outros devem ter de não a manifestar.
Ai de quem prometer para eu cumprir...!
As pessoas usam a "fé" como uma negociata com o Deus que a tutela.
Invariavelmente, e à semelhança de tudo o resto, nunca admitem ter feito um mau negócio.
O Nabeiro de Rio Maior é que ainda não se lembrou de explorar o ramo por lá. Imagino stands da Delta espalhados pelo santuário onde vendedeiras especializadas e trajadas a rigor anunciariam aos peregrinos passantes e distraidos: "venha aqui meu santo, temos cáfé em pacote"
Ri-te e vais pró "infas"!!!
jarneira:
Resposta no post mais abaixo... Por onde quer que andes, aproveita para descansar.
baixinhaa:
há tribus longinquas que, apesar de motivadas por nenhuma acção dita cultural, dão-nos lições de civilidade. Essa é que é essa.
margri:
O que é que a Igreja Católica lucraria em esclarecer os seus fiéis?
dd:
Achas? Olha que..
jg:
Café moído? Dava jeito porque parece que anda esgotado.
jg:
Tou safa. Fecharam o limbo.
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