quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
ANDA NO AR

quinta-feira, 18 de novembro de 2010
À VELOCIDADE DA SOMBRA

terça-feira, 26 de outubro de 2010
CARTOGRAFIA

segunda-feira, 18 de outubro de 2010
SINAIS DE FUMO

quarta-feira, 29 de setembro de 2010
HISTÓRIAS DE ENCANTAR
problemas de consciência, mas que mesmo assim
gostava de se mostrar trasbordante de sabedoria.
Até que um dia caiu no chão e partiu uma asa.
Era uma vez uma caneta que se preparava para
assumir a plenitude da sua idade, quando de repente
ficou sem tinta.
Era uma vez uma estrela polar que apesar da sua
carência afectiva, se esforçava por permanecer
no mais absoluto segredo profissional.
Era uma vez uma linda bicicleta de montanha que
sofria de graves problemas de coluna, até quando
o percurso era a descer. Por isso não teve outra
solução do que parar e dedicar-se à escrita.
Era uma vez um rico relógio de prata que vivia num
magnífico palácio onde exercia o honroso cargo de
guia turístico. Até que um dia foi declarado relíquia
arquitectónica e não conseguindo suportar tal desgosto,
deu em beber mesmo sabendo que não era à prova de água.
Era uma vez uma mesa rectangular que por falta
de verbas, teve de optar por ficar calada, apesar
da sua potencialidade para mesa redonda.
Era uma vez um advogado de defesa que se partiu
e não voltou a ser recuperado pois não valia a pena tal
investimento, tanto mais num período de tão grande
contenção económica.
Era uma vez um girassol com cara de poucos amigos
que costumava estar virado para a parede e só se
mostrava em dias de grande solenidade ou
quando não avistava nenhum turista por perto.
Era uma vez uma linha recta que ficou interrompida
temporariamente para beneficiação mas que apesar
desse contratempo, continuou a sua árdua luta
pelos direitos humanos.
Era uma vez um número primo que recebeu
uma condecoração pelos actos praticados
em prol do progresso científico e tecnológico.
Como grande filantropo que era, mostrava-se
sempre de cabeça baixa em sinal de submissão.
Era uma vez uma máquina de escrever
que se avariou mesmo a tempo de evitar
que fosse cometido um acto de desespero.
Era uma vez uma tarde que ficou bloqueada
numa compacta fila de trânsito e não chegou
a tempo de assistir ao pôr do Sol.
Era uma vez uma ideia que falhou
devido a um corte de energia.
Era uma vez uma lâmpada
que se apagou por falta de amor.
Era uma vez um salto olímpico
que tinha por objectivo a felicidade.
Era uma vez uma chávena sem asa
que não sabia que fazer da sua vida.
Era uma vez uma vida que ficou esquecida
na prateleira porque não havia mais espaço
para o seu coração.
Era uma vez uma caixa completamente vazia
e sem histórias para contar.
Era uma vez um mundo que por falta de imaginação
ficou redondo como um pássaro.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010
TUDO A CINCO EUROS E ANTES QUE A POLÍCIA CHEGUE

terça-feira, 31 de agosto de 2010
OS ABRUNHOS
contra estas abelhas azuis que picam os abrunhos
contra esta idade aberta ao ritmo do galope
contra o precipício que aparece sem aviso
caindo para dentro de outro céu, de outro grito
as cadeiras morrem e sonham e bocejam
e batem o pé
e partem-se porque estão derreadas de tanto sol
porque queimaram os braços com tanto mel
porque já não podem com tanta eternidade
não sei como as árvores não se desfazem no chão
talvez a única técnica de sobrevivência seja a morte
talvez o próprio sol precise de raízes para não apodrecer

quarta-feira, 18 de agosto de 2010
SABERES

quinta-feira, 5 de agosto de 2010
PETIÇÃO PARA ACABAR COM O MÊS DE AGOSTO

Agosto é o pior mês para férias.
Ir à praia em Agosto é de doidos.
Em Agosto o trânsito assusta.
Casamentos e baptizados em Agosto deviam ser proibidos.
Blogar, neste mês, é escrever pró boneco. Nem o Privada cá anda.
Bom, bom mesmo, só o luar. E a fruta da época.

segunda-feira, 26 de julho de 2010
POEMA FULMINANTE
Desses que não têm origem conhecida
E que causam grande consternação
Desta idade… quem diria
Estamos todos sujeitos a nascer de um momento para o outro
Basta bater com a cabeça numa flor
Ou deixar entrar uma formiga miudinha para o peito
Ninguém escapa
Quer se escreva em texto corrido ou entre aspas
Nasce-se com um sorriso crónico
Que não há como o curar
Nem mesmo praticando muita ginástica interplanetária
Além do sorriso
Há outros perigos igualmente alegres
Fatalmente alegres
Não há remédio, nada mata a vida!

sexta-feira, 16 de julho de 2010
EM TERRA FIRME
Estou sempre a perder-me nas coisas que penso
Deixo as palavras esquecidas pelos cantos
Até elas se encherem de bolor e de peneiras miudinhas
Daquelas que entram nos armários para comerem a roupa
Não tenho nenhuma táctica de navegação
Por isso respiro com os olhos fechados
E deixo que o tempo me puxe pelos pés
Fazendo-me crescer ao contrário
Sinto-me crescida desde que comecei a brincar
E a fazer desenhos com o coração
Sei que há estrelas minúsculas por onde posso fugir
Mas decidi ficar até que as formigas se fartem de mim
Já aguento qualquer pedra ou negação
Porque agora só vou pela minha consciência
Contra todos os passos que limitam a liberdade
Perco-me dentro das coisas que penso
Mas insisto e encontro sempre uma saída
Esta é a minha voz

sexta-feira, 9 de julho de 2010
ÚLTIMA HORA
Deixam cair a cabeça
Por vezes os braços também caem
É nessa altura que o corpo acorda
E num sobressalto põe-se em pé
Porque está na hora das notícias

quinta-feira, 24 de junho de 2010
TELHADOS DE PAPEL
Nuvens, caminhos, ideias, caixas, árvores...
Sempre na última estante de cima
Ou num desvio entre o mar e a garganta
É difícil estar só
Porque a porta bate muito mais que o coração
E os olhos vivem numa correria enquanto dormem
Não há como segurar o vento

segunda-feira, 14 de junho de 2010
UM SOL PARA TRAZER NO BOLSO
Poderia construir um mar em miniatura
Teria apenas de gastar muitos fósforos
As conchinhas de mar
Só servem para outras filosofias
O abominável homem das neves
É todo feito de peugadas
E de testemunhos oculares
Por isso
Nada mais confortável para uma montanha
Do que crescer dentro duma garrafa

quarta-feira, 2 de junho de 2010
A ÉTICA DAS MÁQUINAS DE CALCULAR
É prático saltar por cima dos bancos e das mesas
E atirar o mundo para trás das costas
Como quem já se esqueceu de tudo
Ficando apenas com as dores musicais
Não vais
Ter outra oportunidade
Chegou a época das cerejas
O amor tem consequências singulares
E a guerra dos cem anos já matou a memoria
Mas as nozes e os poemas épicos
Provocam aftas nos ouvidos
Até houve um poeta romano chamado Ovídio

segunda-feira, 31 de maio de 2010
NADA COMO NÃO FAZER NADA.

quarta-feira, 12 de maio de 2010
O ÁBACO DO SILÊNCIO
A verdade é que não consigo poisar os pés
Nem os olhos por muito tempo
Se o faço fico com dores na fechadura
Porque sou uma porta sem cadeados
Uma porta escancaradamente secreta
Que não leva a nenhum lado
O esquecimento é o vigor mais forte dos dias
Cada pé tem os seus terrenos falsos
E as suas areias movediças
Não conheço gesto mais vincado
Do que a mão quando está cansada
E deixa cair o lápis a espada e a rosa
Todos os fusos horários são lentos
Vou apagar as árvores
Que estão por trás dos castelos
Vou pedir a ajuda de um dragão
Já não tenho medo das rocas
Porque os dedos estão habituados
A acordar por si
Quando chegam ao fim da letra z

segunda-feira, 3 de maio de 2010
A MÁQUINA DE DAR AO PEDAL

quarta-feira, 21 de abril de 2010
PARA UMA VIDA CHEIA DE ENERGIA

Falhar em cheio e com grande estilo!
Falhar para não falar com as palavras trocadas,
Para não andar na ordem contrária do tempo
Para não cair de sono quando se olha para o Sol.
Também é bom faltar todos os dias
Aos dias que tantas vezes nos sobram,
Saltar pela janela sem fazer barulho
E fugir através das sombras hertzianas
Que rasam os muros mais sintonizados
Os muros que temos dentro dos ouvidos.
Às vezes é saudável ficar doente
Coxear das ideias, ter muitas dores nos bolsos
E poucas vitaminas na sola dos sapatos.
A vida é de morrer a rir,
Basta ver como os pássaros
Chocam com o céu sem se partirem...

segunda-feira, 19 de abril de 2010
AS PORTAS DO CÉU
Quão esquecidos andamos das nossas pequenas fragilidades.

quinta-feira, 15 de abril de 2010
TENHO DE APRENDER A CONTAR PELOS DEDOS

quarta-feira, 7 de abril de 2010
SONÂMBULOS DIURNOS

sexta-feira, 2 de abril de 2010
PÁSCOA

sábado, 27 de março de 2010
DA LÍNGUA PORTUGUESA
E não sinto nenhum stress
Em escolher outras palavras assim com muitas nuances
Para fazer grafites nas paredes
Porque a saudade é geograficamente
A palavra mais estrangeira
O cão faz ão ão
Mesmo que seja um pastor alemão
Uma chave-inglesa é também uma coisa muito prática
De resto
As flores e as pedras não se manifestam
Basta sentir o perfume do mar e das giestas

domingo, 21 de março de 2010
SEGURANÇA MÁXIMA
Ter a certeza de tantas coisas. O caracol demoraria um dia inteiro a trepar até ao cimo da parede. De meia em meia hora calcula-se a distância percorrida. Não há nada mais extravagante do que a prática do alpinismo. Mas todos os bichos, mesmo os rastejantes, são trepadores por natureza. Não existe uma técnica definida para calcular as distâncias. Existe apenas a certeza de que as sombras crescem à medida que o sol vai baixando no horizonte. As sombras acabam por ficar tão altas como as paredes e as montanhas. O caracol atrasa-se significativamente porque desconhece a fórmula da linha recta. E faz constantes desvios através da textura áspera do cimento. Na trajectória aparente do sol não há qualquer tipo de desvios. O olhar, também, é rectilíneo. O olhar não é aparente. É fixo. Observa com toda a atenção os movimentos ondulantes do caracol. É difícil calcular a distância exacta entre dois pontos. É necessário que os pensamentos formem uma cadeia lógica entre si. É necessário que todos os lugares estejam interligados. Escalar a vida da Terra ao céu. Numa órbita curva dos foguetões. A contagem é decrescente. E infinita.
Não ter a certeza de coisa alguma. As casas dividem-se em duas metades. De um lado, os números pares. Do outro, os números ímpares. Não há espaços livres por onde passar. Todas as paisagens estão atravancadas com fitas métricas e marcos geodésicos. Impossível galopar por cima das horas e dos contratempos. As torres de vigia, embora adormeçam com muita frequência, mantêm-se firmes nos seus postos de comando. Têm luzes que piscam com toda a urgência. Qualquer direcção para onde se tente ir tem de ser anunciada ao pormenor. Nada mais caótico do que as raízes que se multiplicam no interior de uma frente fria. Os ventos levantam-se em terríveis aspirais de fumo e de pó. Esse tráfego subterrâneo de naves espaciais. Nunca se chega a lado nenhum. Há atrasos em todos os embarques. As portas fecham-se. Um caminho cheio de fronteiras. As barreiras automáticas que sobem e descem conforme a apresentação de um registo fotográfico. Identidade perdida. Números primos. Todas as casas ao nível do mar. Paisagem dividida ao meio. Hemisfério diurno.
As ondas. Sim, as ondas. Ter a certeza de algumas coisas. E ignorar completamente tudo o resto. Ignorar os lugares de abrigo. Ir mesmo até à beira das falésias. Sentir os pés molhados. De repente, uma necessidade incontrolável de frutos maduros. As rochas cor de pêssego mesmo ali. E os caranguejos a serem repelidos pelas marés. Caranguejos que se escondem por entre as escarpas mais escorregadias. O tempo move-se numa sequência de retrocessos. É tão difícil acertar os passos com a rotação do mundo. É tão simples dar um salto para fora do muro. O mundo é um muro perfeitamente transponível. Basta acordar. E estar de acordo com os princípios básicos da física.
Nunca cair numa armadilha gramatical. E saber sempre onde estão as entradas de emergência.

sexta-feira, 12 de março de 2010
PAISAGEM SEM REGRESSO
Mesmo com as janelas fechadas
Não há como evitar o passar do tempo
A actividade das máquinas cósmicas
Os seus lábios metálicos abrem e fecham-se
Num pestanejar de cordas e roldanas
As novas obras multiplicam-se
E já não há mais céu para arranhar
Só futuros para distribuir
Só estradas para abrir à força
Dentro das nossas cabeças
Já não há mais árvores para navegar
Só um corpo antigo e em perigo de desmoronar
Seguro por estacas que aguentam os ombros e os joelhos
Muitas roupas vão ficar desalojadas
Muitos sapatos vão ficar sem alicerces
Caindo para dentro de um vento profundo
Sem respiração nem vontade para crescer
Para subir de andar em andar
Um corpo que de tão exausto vai ficar sem telhados
Vai desistir das suas portas mais urgentes
Das suas paredes mais íntimas e caladas
Um corpo que de tão alto vai precisar de uma grua
Para colocar a sua última palavra angular
Sobre as casas que vão voltar a nascer

quarta-feira, 3 de março de 2010
É SÓ PARA SABER

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
SEM OLHAR

domingo, 7 de fevereiro de 2010
RECEITUÁRIO
Às vezes não há por onde começar
Porque os dias não têm pontas
E a fita-cola fica colada aos dedos
Até ir parar à sola dos sapatos
Hoje em dia as roupas são muito cansadas
E ao mínimo desgosto enchem-se de borboto
Hoje em noite a pele é muito seca
E enche-se de borboletas prateadas
Quando a vida demora a começar
É preciso tocar às campainhas de todas as portas
É preciso pôr estacas nas árvores que estão tortas
É preciso tapar as casas que ficam rotas
É preciso rasgar as palavras que vão caindo mortas
Mas quando os dias vêm com demasiada antecedência
Só há uma solução:
Espirrar três vezes para desobstruir o coração

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
O ZERO INFINITO
Porque é preciso despachar os poemas num instantes
Antes que eles murchem e se partam pelas asas.
É preciso empurrar os olhos para a frente
Em direcção aos filhos que estão por abrir,
Para que eles atravessem de novo as pontes
Que estão agora a ruir pelo peso do nosso sono.
E as palavras todas a pingar pelas paredes abaixo
Como se fossem chuva disparada por canhões de guerra
Que não se podem render diante de um silêncio obrigatório.
É difícil abrir passagem por entre os pensamentos apertados,
Há instantes em que nem uma clave de sol
É capaz de entrar no buraco da partitura.
Ninguém pára porque os olhos estão sempre verdes
E os cruzamentos são lugares de velocidade máxima
Com as árvores e as girafas todas em contramão,
Os cruzamentos são esquinas redondas
Onde os polícias e os larápios atacam ao pôr-do-sol
Vestidos com as mesmas fardas e os mesmos apitos.
Já há não como distinguir as palavras umas das outras,
Todas as batalhas são geometricamente iguais,
Com as mesmas medidas e as mesmas sílabas tónicas.
Custa a acreditar, mas ninguém sabe a idade do tempo
E ainda que se façam múltiplas equações
Não se há-de encontrar o comprimento do futuro que falta
Porque tudo é eterno como a numeração romana.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
MAIS UM ADEUS

Procuravas onde te esconde
Mas a vida não tem portas de fechar por dentro
Só os olhos
Fechaste-os para sempre.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
MARCAS

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
COMO ESCREVER UM GUIÃO
Apagou a televisão e foi dormir
No meio da noite descobriu que não tinha dedos
Apenas uma almofada cheia de diamantes
Por não poder voltar atrás na vida
Teve de andar com o filme para a frente
Até que o Sol nasceu e se viu a cabeça de um leão
Era o leão da Metro-Goldwyn-Mayer
Nessa altura apareceram nuvens altas
E o Sol desligou-se com um enorme rugido
Os braços espreguiçaram-se para puxar uma ideia
Mas o mundo ficou tão grande
Que a partir daquele instante seria difícil imaginar
Um argumento válido para continuar a viver
Um argumento que fosse credível e original
Ainda assim os lápis estavam todos afiados até ao limite
Por isso era complicado escolher outros desafios
Finalmente um cowboy entrou na história
E deu um tiro fulminante
Que deixou o ar impregnado de tanta pólvora

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
ESTA MESMO MUITO FRIO
Os miúdos, sobretudo os mais crescidos, deviam ir para escola com a mesma vontade com que vão para uma noite de karaoke ou isso.
